|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Jovens diretores dão o tom em Brasília
Festival reuniu a produção de cineastas iniciantes, de marca autoral e forjada nos circuitos dos cineclubes
Filmes foram realizados por equipes pequenas e misturam o real com a ficção; o resultado da competição sai hoje
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Festival que já reuniu, ao
redor da tela e das mesas de
chope, figuras como Glauber
Rocha (1939-1981), Joaquim
Pedro de Andrade (1932-1988) e Rogério Sganzerla
(1946-2004), Brasília guarda
ainda, a despeito dos altos e
baixos destes 43 anos de
existência, aura de espaço da
resistência.
E foi com esse espírito que,
no correr da última semana,
um grupo de jovens diretores
tomou de assalto o mais tradicional festival de cinema
brasileiro.
Exceção feita ao carioca
João Jardim, todos os diretores dos seis longas-metragens selecionados têm menos de 40 anos.
A idade está longe de ser o
único ponto a uni-los. A competição deste ano, cujo resultado será anunciado hoje à
noite, no Cine Brasília, legitimou uma produção forjada
no circuito dos cineclubes e
dos festivais menores, voltados ao cinema autoral. Mas
que nova turma é essa?
Trata-se, em primeiro lugar, de uma geração que
acredita em outros caminhos
para o audiovisual.
Sem buscar reproduzir o
cinema de alto orçamento, os
novos cineastas tendem a
trabalhar em sistema cooperativo, com equipes pequenas, a embaçar as fronteiras
entre ficção e documentário e
a trabalhar com atores não
profissionais ou desconhecidos. Têm também a tecnologia como eixo: seja na feitura, na circulação ou no tema.
SEM FETICHE
"Acho que havia um desejo comum de que o universo
do longa-metragem perdesse
a imagem da grande estrutura e ganhasse uma aura mais
leve", diz Felipe Bragança
que, com Marina Meliande,
fez "A Alegria", selecionado
para a Quinzena dos Realizadores de Cannes e único concorrente que se constrói fortemente como fantasia, sem
derivações documentais.
"Não temos o fetiche do cinema como algo inalcançável", diz Eryk Rocha.
"Sempre existiu, no cinema brasileiro, um olhar que
passa pelo desejo de vencer
dentro do capitalismo, dentro da indústria. Esta geração
que está aqui acredita num
cinema menor, mais democrático", completa Sérgio
Borges.
BAIXO ORÇAMENTO
O filme mais caro do festival é "Transeunte", de Rocha, que não chegou a R$ 1,5
milhão. O documentário "Vigias" custou R$ 40 mil.
Nenhum deles mobilizou
mais de 25 pessoas na equipe. Vários, como "Amor?",
de João Jardim, foram feitos
com menos de dez pessoas.
Muitos dos envolvidos nos
projetos foram se conhecendo em festivais. E, como sempre acontece quando uma
nova geração está sendo forjada, não são poucas as ligações entre os projetos.
O mineiro "O Céu sobre os
Seus Ombros" tem o fotógrafo de "Vigias", a roteirista de
"Transeunte" e três técnicos
de "Os Residentes".
Tanto "O Céu..." quanto
"Transeunte" apresentam-se
como ficções, mas deixam o
real invadir a cena. Isso, porém, não deve ser confundido com improviso.
Todos os filmes são absolutamente rigorosos com o
aspecto plástico.
"Meu filme é uma manifestação estética", demarca Tiago Mata Machado, de "Os Residentes", que resvala na videoarte.
"O digital está dando uma
volta, está indo buscar uma
certa poesia, está recuperando a impureza do cinema."
Impuro e jovem, o festival
de Brasília abriu uma nova
janela para discutir o cinema
brasileiro.
Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros
|