São Paulo, segunda, 30 de novembro de 1998

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Ed Wood - o pior do cinema chega em caixa

VÍDEO LAN€AMENTOS
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha, em Nova York

Quem ainda tem dúvidas de que Ed Wood (1924-1978) foi o pior diretor de cinema a pisar na face da Terra precisa conferir o pacote de sete fitas lançado pela Continental, junto com mostra no MIS.
São seis longas-metragens (cinco fazem parte de uma caixa) e um documentário, que provam por que Wood ainda não foi superado em termos de incompetência cinematográfica.
Os filmes de Wood são de um ruindade quase surreal: os diálogos não fazem sentido e parecem ter sido escritos em meio a um contínuo torpor alcoólico (fato!); os atores passeiam como zumbis por ridículos cenários de papelão. A noção de continuidade é inexistente: dia e noite se misturam, carros mudam de cor.
Apesar de todos os defeitos, a obra de Wood é admirável. Quem conhece um pouco a vida do diretor -e o documentário "O Homem Que Amava o Cinema", lançado no pacote, certamente será de interesse- sabe que seus filmes são autobiográficos.
O pacote inclui quatro longas escritos e dirigidos por Wood - "Glen ou Glenda" (1953), "A Noiva do Monstro" (55), "Plano 9 do Espaço Sideral" (56) e "A Noite das Assombrações" (58) -e dois filmes roteirizados por ele e dirigidos por outros cineastas igualmente sem talento: "A Noiva e a Besta" (58), de Adrian Weiss, e "Orgia da Morte" (65), de A.C. Stephen, este lançado fora da caixa.
Edward David Wood Jr. fez muitos filmes esquisitos, mas sua vida foi mais estranha que qualquer ficção. Desde pequeno, adquiriu um fetiche por roupas de angorá, tecido macio feito de pêlo. Gostava de se vestir de mulher, o que quase o levou a ser expulso de casa pelo pai. Mas Ed não era homossexual. Bonitão, fazia um tremendo sucesso entre as meninas do bairro.
Em 1941, Wood alistou-se nos fuzileiros navais e participou de sangrentos combates no Pacífico. Por baixo do uniforme, usava sutiã e calcinhas vermelhas.
De volta a Hollywood, trabalhou como office-boy em estúdios de cinema e procurou emprego como diretor e roteirista. Não deu certo. Seus roteiros só provocavam gargalhadas. O faroeste "Crossroads Avenger", por exemplo, tinha um diálogo dos mais esdrúxulos:
- Como é seu nome?
- Duke Smith!
- Gozado, há vários Duke por aqui, e todos têm o sobrenome Smith!
A equipe de Wood era tão extravagante quanto ele: entre seus atores destacavam-se Tor Johnson, gigantesco astro da luta livre, Bunny Breckinridge, um homossexual cujo sonho era trocar de sexo, e Criswell, um vidente conhecido por errar todas as previsões.
O grande feito de Ed Wood, no entanto, foi ter ressuscitado a carreira de Bela Lugosi, astro dos filmes de horror dos anos 30. Lugosi vivia num miserê de dar pena, esquecido pelos estúdios e viciado em morfina e heroína. Ele atuou em dois filmes de Wood, "Glen ou Glenda" e "A Noiva do Monstro", antes de morrer em 1956.
Como homenagem ao amigo, Wood resolveu usar uma cena inédita de Lugosi em seu filme seguinte, "Plano 9 do Espaço Sideral". Lugosi aparece só no início, sendo substituído por um dublê, que atua com uma capa sobre o rosto.
Wood fez outros filmes, todos fracassos de crítica e público. Nos anos 70, escreveu romances e dirigiu filmes eróticos. Falido, entregou-se à bebida. Morreu em 78, de um ataque do coração. Nenhum jornal publicou seu obituário.
Nos anos 80, um grupo de críticos elegeu "Plano 9 do Espaço Sideral" o pior filme de todos os tempos, fato que ressuscitou o interesse pela obra de Wood.
Em 1994, Tim Burton, diretor de "Batman", lançou "Ed Wood", com Johnny Depp no papel de Ed. O filme de Burton é uma das mais carinhosas homenagens cinematográficas já realizadas e garantiu que a história de Edward D. Wood Jr. nunca será esquecida.
²
Pacote: Ed Wood Lançamento: Continental (011/284-9479) Quanto: caixa com cinco filmes, R$ 120 (durante a mostra, R$ 110); cada fita, R$ 49 (no MIS, R$ 30)


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