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Ed Wood - o pior do cinema chega em caixa
VÍDEO LAN€AMENTOS
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha, em Nova York
Quem ainda tem dúvidas de que
Ed Wood (1924-1978) foi o pior diretor de cinema a pisar na face da
Terra precisa conferir o pacote de
sete fitas lançado pela Continental,
junto com mostra no MIS.
São seis longas-metragens (cinco
fazem parte de uma caixa) e um
documentário, que provam por
que Wood ainda não foi superado
em termos de incompetência cinematográfica.
Os filmes de
Wood são de um
ruindade quase
surreal: os diálogos não fazem sentido e parecem ter
sido escritos em
meio a um contínuo torpor alcoólico (fato!); os atores passeiam como zumbis por ridículos cenários
de papelão. A noção de continuidade é inexistente:
dia e noite se misturam, carros mudam de cor.
Apesar de todos
os defeitos, a obra
de Wood é admirável. Quem conhece um pouco a
vida do diretor -e o documentário "O Homem Que Amava o Cinema", lançado no pacote, certamente será de interesse- sabe que seus
filmes são autobiográficos.
O pacote inclui quatro longas escritos e dirigidos por Wood -
"Glen ou Glenda" (1953), "A Noiva
do Monstro" (55), "Plano 9 do Espaço Sideral" (56) e "A Noite das
Assombrações" (58) -e dois filmes roteirizados por ele e dirigidos
por outros cineastas igualmente
sem talento: "A Noiva e a Besta"
(58), de Adrian Weiss, e "Orgia da
Morte" (65), de A.C. Stephen, este
lançado fora da caixa.
Edward David Wood Jr. fez muitos filmes esquisitos, mas sua vida
foi mais estranha que qualquer ficção. Desde pequeno, adquiriu um
fetiche por roupas de angorá, tecido macio feito de pêlo. Gostava de
se vestir de mulher, o que quase o
levou a ser expulso de casa pelo
pai. Mas Ed não era homossexual.
Bonitão, fazia um tremendo sucesso entre as meninas do bairro.
Em 1941, Wood alistou-se nos fuzileiros navais e participou de sangrentos combates no Pacífico. Por
baixo do uniforme, usava sutiã e
calcinhas vermelhas.
De volta a Hollywood, trabalhou
como office-boy em estúdios de cinema e procurou emprego como
diretor e roteirista. Não deu certo.
Seus roteiros só provocavam gargalhadas. O faroeste "Crossroads
Avenger", por exemplo, tinha um
diálogo dos mais esdrúxulos:
- Como é seu nome?
- Duke Smith!
- Gozado, há vários Duke por
aqui, e todos têm o sobrenome
Smith!
A equipe de Wood era tão extravagante quanto ele: entre seus atores destacavam-se Tor Johnson,
gigantesco astro da luta livre,
Bunny Breckinridge, um homossexual cujo sonho era trocar de sexo, e Criswell, um vidente conhecido por errar todas as previsões.
O grande feito de Ed Wood, no
entanto, foi ter ressuscitado a carreira de Bela Lugosi, astro dos filmes de horror dos anos 30. Lugosi
vivia num miserê de dar pena, esquecido pelos estúdios e viciado
em morfina e heroína. Ele atuou
em dois filmes de Wood, "Glen ou
Glenda" e "A Noiva do Monstro",
antes de morrer em 1956.
Como homenagem ao amigo,
Wood resolveu usar uma cena inédita de Lugosi em seu filme seguinte, "Plano 9 do Espaço Sideral".
Lugosi aparece só no início, sendo
substituído por um dublê, que
atua com uma capa sobre o rosto.
Wood fez outros filmes, todos
fracassos de crítica e público. Nos
anos 70, escreveu romances e dirigiu filmes eróticos. Falido, entregou-se à bebida. Morreu em 78, de
um ataque do coração. Nenhum
jornal publicou seu obituário.
Nos anos 80, um grupo de críticos elegeu "Plano 9 do Espaço Sideral" o pior filme de todos os
tempos, fato que ressuscitou o interesse pela obra de Wood.
Em 1994, Tim Burton, diretor de
"Batman", lançou "Ed Wood",
com Johnny Depp no papel de Ed.
O filme de Burton é uma das mais
carinhosas homenagens cinematográficas já realizadas e garantiu
que a história de Edward D. Wood
Jr. nunca será esquecida.
²
Pacote: Ed Wood
Lançamento: Continental (011/284-9479)
Quanto: caixa com cinco filmes, R$ 120
(durante a mostra, R$ 110); cada fita, R$ 49
(no MIS, R$ 30)
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