São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2000

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Produções de diretoras dominam as telas no primeiro trimestre de 2001

Na direção das mulheres
Divulgação
Murilo Benício e Carolina Ferraz, em "Amores Possíveis", segundo filme da trilogia de Sandra Werneck, previsto para fevereiro



Lucia Murat, Laís Bodanzky e Sandra Werneck estão entre as cineastas que lançam filmes no ano que vem

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas encabeçam os créditos de cinco entre seis filmes que darão a largada nos lançamentos nacionais em 2001. Na sequência da estréia do documentário de Eduardo Coutinho, "Babilônia 2000", na primeira semana do ano, as diretoras dominam as telas no primeiro trimestre.
Lucia Murat ("Doces Poderes") apresenta, em janeiro, seu "Brava Gente Brasileira", um épico ao avesso, revisionista e rodado com orçamento de R$ 1,4 milhão. Ressentindo-se da "falta de apoio ao cinema não-comercial", Lucia acredita que 2001 tem que ser "o ano da discussão de alternativas à Lei do Audiovisual". "Quando penso que acabei de fazer um filme e tenho que voltar a essa infame palavra que é "captar", tenho vontade de sair chorando", diz.
Tânia Lamarca ("Buena Sorte") estréia o infantil "Tainá - Uma Aventura na Amazônia", co-dirigido por Sérgio Bloch. Em seguida, Sandra Werneck ("Pequeno Dicionário Amoroso") lança "Amores Possíveis", segundo passo de sua planejada "trilogia do comportamento" -do comportamento romântico, entenda-se. Sandra pretende dar início à produção do filme que completa o trio ainda em 2001.
O lançamento de "Amores Possíveis", que custou R$ 1,8 milhão, adota o formato kit completo. "O roteiro (assinado por Paulo Halm) sairá em livro pela Objetiva, e a trilha (de João Nabuco), em CD, pelo selo Biscoito Fino", diz. O novo longa da diretora tem participação acertada na mostra oficial do festival de Sundance.
As duas outras estréias nacionais que devem ocorrer até março são autênticos cartões-de-visita. Laís Bodanzky ("Bicho de 7 Cabeças") e Lina Chamie ("Tônica Dominante") debutam na direção. A primeira venceu o Festival de Brasília com sua fita que aborda relações familiares e drogas.
A segunda espera estimular discussões sobre a linguagem cinematográfica com seu petardo, produzido ao custo de R$ 500 mil e que praticamente dispensa diálogos. "É um filme diferente, um contraponto à produção. Será no mínimo interessante", diz.
Mas a sensação da temporada está prevista para setembro, quando chegará às salas "Bolandeira", de Walter Salles, que com "Central do Brasil" (97) estabeleceu-se como o mais prestigiado cineasta brasileiro em atividade. O longa se baseia no livro "Abril Despedaçado", do albanês Ismail Kadaré.
Os filmes de Laís e Laura estão prontos há algum tempo e serão lançados de olho no público adolescente, na volta às aulas. A permanência na "gaveta" -comum na produção nacional- tem como um de seus determinantes a tentativa de drible aos blockbusters norte-americanos.
A situação revela a persistência da idéia de que o filme brasileiro é alvo do desapreço em sua própria terra. E resulta numa desvantagem flagrante: a cinematografia nacional ocupa menos de 10% do mercado exibidor. O índice continuou verdadeiro em 2000 (9%), mesmo com o "fator" "Auto da Compadecida", de Guel Arraes (2,82 milhões de espectadores).
Nada indica grandes mudanças para o ano que vem. Entre produções recém-finalizadas e as que adormeceram nas filas da distribuição, o país deverá ver aproximadamente 24 estréias nacionais, a média dos últimos cinco anos.
A previsão de cineastas e distribuidores aponta para 40 títulos, mas tem pouco apoio na realidade recente. Foram 28 os filmes lançados em 2000 -seis a menos que em 1999, o ano de melhor desempenho na chamada fase de retomada do cinema nacional.
Em fevereiro, o país tem a chance de provar mais um daqueles acontecimentos que esfregam o orgulho nacional. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anuncia os concorrentes ao Oscar; "Eu Tu Eles", de Andrucha Waddington, pode estar na disputa da estatueta de melhor filme estrangeiro. É esperar para ver.




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