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São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2003

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LIVROS

Centenário do pintor é comemorado com obras que abordam sua vida, seus trabalhos e suas relações com a política

Biografias lembram cem anos de Portinari

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

"Portinari não é apenas um artista, é a mais útil, a mais exemplar aventura de arte que já se viveu no Brasil." A frase é de Mário de Andrade (1893-1945), amigo do pintor Candido Portinari, cujo nascimento completa hoje exatos cem anos. No espírito da "aventura de arte", a data é comemorada com o lançamento de duas biografias: a didática "Portinari: O Pintor do Brasil" e a imensa "Candido Portinari: O Lavrador de Quadros".
Nos livros, aspectos pontuais da vida de Portinari são tratados e, em especial, as questões políticas que talvez tangenciem menos a sua arte do que a sua vida. Lado a lado, as polêmicas em torno de Portinari constituem praticamente um oximoro: filiação ao Partido Comunista Brasileiro, pinturas de temas religiosos e a suposta afinidade com o Estado Novo, ainda motivo de grandes discussões.
"Essa cronobiografia nasceu também da necessidade de colocarmos alguns pingos nos is sobre questões pretensamente polêmicas acerca da obra e vida do pintor, que voltam insistentemente à baila até hoje, como o mato que cresce em volta", diz João Candido Portinari, coordenador do Projeto Portinari, sobre "O Lavrador de Quadros", produzido pelo Projeto em parceria com a Telefonica, com tiragem limitada e que não está à venda.
Em "Portinari: O Pintor do Brasil", de Marilia Balbi, lançado pela editora Boitempo, a questão do suposto getulismo também é considerada esclarecida: "A interpretação da história feita por Portinari nunca é a oficial. Ele coloca em primeiro plano o homem do povo, o homem comum".
"O Lavrador de Quadros" trata, ano a ano, da vida de Portinari e tem textos de Antonio Callado e Eugenio Luraghi, escritos especialmente para o volume, além de Walter Zanini, José Cardoso Pires e Carlos Drummond de Andrade ("Como esquecer, Candinho, tua casa de Laranjeiras? E aquelas horas em que eu, calado e "gauche", sentia em mim, sem confessá-lo, o orgulho de ser do teu tempo, da tua companhia.").
"Os textos de Drummond e de Cardoso Pires são de uma intensa beleza poética, ao mesmo tempo em que projetam uma luz toda especial na intimidade de Portinari, em dois momentos diametralmente opostos: o primeiro, no auge da glória do artista, em que ele é festejado por toda uma geração de nomes ilustres", diz João Candido, filho do artista, sobre o texto de Drummond.
"O segundo, no fim da vida de Portinari, em que o pintor, debilitado pela doença fatal e atacado em sua pintura, na política e em sua vida pessoal, mergulha no ocaso, realizando o trabalho titânico, síntese de toda uma vida, os monumentais painéis "Guerra" e "Paz" para a sede da ONU, em Nova York", continua, sobre o escrito de Cardoso Pires.
As amizades literárias de Portinari não são poucas, e Manuel Bandeira, Graciliano Ramos e Mário de Andrade estão entre elas. A ligação entre Mário e Portinari mereceu capítulo especial em "O Pintor do Brasil", com excertos da correspondência que mantiveram por mais de uma década e o retrato que Portinari fez do escritor.
Também chegam às livrarias uma nova edição de "Retrato de Portinari", de Antonio Callado, pela Jorge Zahar, e o livro de poemas "Menino Retirante Vai ao Circo de Brodowski", de Eric Ponty, pela editora Musa.


PORTINARI: O PINTOR DO BRASIL. De: Marilia Balbi. Editora: Boitempo. Quanto: R$ 29, em média (175 págs.).


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