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LIVROS
Centenário do pintor é comemorado com obras que abordam sua vida, seus trabalhos e suas relações com a política
Biografias lembram cem anos de Portinari
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
"Portinari não é apenas um artista, é a mais útil, a mais exemplar aventura de arte que já se viveu no Brasil." A frase é de Mário
de Andrade (1893-1945), amigo
do pintor Candido Portinari, cujo
nascimento completa hoje exatos
cem anos. No espírito da "aventura de arte", a data é comemorada
com o lançamento de duas biografias: a didática "Portinari: O
Pintor do Brasil" e a imensa "Candido Portinari: O Lavrador de
Quadros".
Nos livros, aspectos pontuais da
vida de Portinari são tratados e,
em especial, as questões políticas
que talvez tangenciem menos a
sua arte do que a sua vida. Lado a
lado, as polêmicas em torno de
Portinari constituem praticamente um oximoro: filiação ao Partido
Comunista Brasileiro, pinturas de
temas religiosos e a suposta afinidade com o Estado Novo, ainda
motivo de grandes discussões.
"Essa cronobiografia nasceu
também da necessidade de colocarmos alguns pingos nos is sobre
questões pretensamente polêmicas acerca da obra e vida do pintor, que voltam insistentemente à
baila até hoje, como o mato que
cresce em volta", diz João Candido Portinari, coordenador do
Projeto Portinari, sobre "O Lavrador de Quadros", produzido pelo
Projeto em parceria com a Telefonica, com tiragem limitada e que
não está à venda.
Em "Portinari: O Pintor do Brasil", de Marilia Balbi, lançado pela
editora Boitempo, a questão do
suposto getulismo também é considerada esclarecida: "A interpretação da história feita por Portinari nunca é a oficial. Ele coloca em
primeiro plano o homem do povo, o homem comum".
"O Lavrador de Quadros" trata,
ano a ano, da vida de Portinari e
tem textos de Antonio Callado e
Eugenio Luraghi, escritos especialmente para o volume, além de
Walter Zanini, José Cardoso Pires
e Carlos Drummond de Andrade
("Como esquecer, Candinho, tua
casa de Laranjeiras? E aquelas horas em que eu, calado e "gauche",
sentia em mim, sem confessá-lo, o
orgulho de ser do teu tempo, da
tua companhia.").
"Os textos de Drummond e de
Cardoso Pires são de uma intensa
beleza poética, ao mesmo tempo
em que projetam uma luz toda especial na intimidade de Portinari,
em dois momentos diametralmente opostos: o primeiro, no auge da glória do artista, em que ele
é festejado por toda uma geração
de nomes ilustres", diz João Candido, filho do artista, sobre o texto
de Drummond.
"O segundo, no fim da vida de
Portinari, em que o pintor, debilitado pela doença fatal e atacado
em sua pintura, na política e em
sua vida pessoal, mergulha no
ocaso, realizando o trabalho titânico, síntese de toda uma vida, os
monumentais painéis "Guerra" e
"Paz" para a sede da ONU, em Nova York", continua, sobre o escrito de Cardoso Pires.
As amizades literárias de Portinari não são poucas, e Manuel
Bandeira, Graciliano Ramos e
Mário de Andrade estão entre
elas. A ligação entre Mário e Portinari mereceu capítulo especial em
"O Pintor do Brasil", com excertos da correspondência que mantiveram por mais de uma década e
o retrato que Portinari fez do escritor.
Também chegam às livrarias
uma nova edição de "Retrato de
Portinari", de Antonio Callado,
pela Jorge Zahar, e o livro de poemas "Menino Retirante Vai ao
Circo de Brodowski", de Eric
Ponty, pela editora Musa.
PORTINARI: O PINTOR DO BRASIL. De:
Marilia Balbi. Editora: Boitempo. Quanto:
R$ 29, em média (175 págs.).
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