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Crítica/jornalismo
Reportagens premiadas de José Hamilton Ribeiro são reeditadas
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
José Hamilton Ribeiro é,
certamente, um dos
principais repórteres
que atuaram no Brasil no século 20. Mas o título da antologia
de seus sete textos contemplados com o Prêmio Esso -mais
o famoso relato de sua aventura
no Vietnã, que não foi premiado- , "O Repórter do Século",
sugere um cabotinismo que
não é próprio dele nem lhe faz
justiça.
Ele não é disso, como comprova o reconhecimento honesto no capítulo final (intitulado "As Dez Perguntas que
Mais me Fazem"), ao responder à questão "o que leva um
jornalista a correr o risco de cobrir uma guerra?".
Se fosse cabotino, ficaria apenas na segunda parte de sua
resposta ("esse compromisso
entre romântico e missionário
que todo jornalista leva consigo
de estar onde a notícia estiver,
para denunciar a injustiça, a
iniqüidade, o preconceito").
Como José Hamilton não é
cabotino, sua resposta começa
com a admissão de que outros
motivos para correr esse risco
são: "um pouco, vaidade, um
pouco, espírito de aventura, um
pouco, ambição profissional".
Melhor assim.
Safra de edições
Apesar do desconforto inicial
que o título infeliz possa provocar, este é mais um volume importante na bem-vinda safra de
edições de textos importantes
na história do jornalismo brasileiro e mundial que têm aparecido no mercado nos últimos
seis anos.
A edição é bem cuidada. Cada
reportagem é precedida de
duas páginas que oferecem o
contexto da época em que ela
foi originalmente publicada e
desdobramentos do tema nos
anos seguintes; fotos dos personagens da matéria são reproduzidas bem como das capas dos
veículos em que saíram pela
primeira vez.
Das oito reportagens reproduzidas no livro, cinco foram da
revista "Realidade". Quem nasceu depois dos anos 1960 não
teve a chance de conviver com
aquele veículo, que foi, como
diz José Hamilton Ribeiro em
sua nota introdutória, "um
avanço no jornalismo deste
país, principalmente no jornalismo de "longo-curso", de profundidade, o jornalismo de texto e de autor".
Jornalismo de hoje
O autor pergunta se "Realidade" e seus textos "gordos"
ainda caberiam no jornalismo
de hoje. A pergunta já embute a
resposta de que, na opinião dele, não. É discutível.
Se é verdade que não parece
haver atualmente grande quantidade de consumidores dispostos a pagar por uma revista
ou jornal do tipo "Realidade", o
simples fato de tantos livros
com reproduções de matérias
desse tipo estarem sendo publicados parece ser uma indicação
de que algum público para elas
deve existir.
Talvez o problema esteja no
grau de expectativa de popularidade que os apreciadores dessa espécie de jornalismo têm.
Assim como o rádio, após a disseminação da TV, deixou de ser
o veículo das multidões, mas
nem por isso desapareceu ou
deixou de produzir programas
de bom nível, pode ser que as
chamadas "grandes reportagens" possam sobreviver em
publicações com pequena tiragem, dirigidas para um nicho
de leitores sofisticados e de alto
poder aquisitivo. É possível se
satisfazer com isso?
De qualquer modo, ainda que
José Hamilton esteja certo e
não haja mais lugar para periódicos como "Realidade", vale a
pena ler ou reler os textos que
ele produziu. Eles mostram como um jornalista pode ser preciso, correto, atrativo, inteligente e compreensível ao tratar
de temas científicos de alta
complexidade -como um
transplante de rim- ou de
grande interesse humano, como os combates no Vietnã.
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é diretor de
relações institucionais da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas. É membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da
USP, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do conselho editorial da "Revista de Política Externa"
O REPÓRTER DO SÉCULO
Autor: José Hamilton Ribeiro
Editora: Geração Editorial
Quanto: R$ 34,90 (238 págs.)
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