PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"O Código Da Vinci" é um belo exemplo de transposição de forma ou melhor, de fórmulas. No caminho da literatura ao cinema, as receitas do best-seller foram rigorosamente adaptadas às de um "blockbuster" da nova Hollywood (globalizada e voltada para o filme-família).
A trama é marcada por uma abordagem aparentemente audaciosa de temas religiosos e por um internacionalismo de toques exóticos, trabalhando alguns ícones da grande indústria do turismo (como o Museu do Louvre). Personagens de várias nacionalidades, liderados pelo professor americano Robert Langdon (no filme, Tom Hanks), se envolvem em uma moderna caça ao Santo Graal, que foi transformado aqui em uma prova concreta do casamento de Jesus Cristo com Maria Madalena.

Fato e religião
A idéia central é resumida pelo personagem de Sir Leigh Teabing (Ian McKellen): "E se a maior história já contada for uma mentira?". Um detalhe curioso é o uso da expressão "maior história já contada", que equivale ao título original do clássico filme de George Stevens sobre a vida de Cristo ("The Greatest Story Ever Told"). "O Código Da Vinci" manipula com esperteza a confusão entre mito e história, fato e religião.
No filme, essa confusão é reforçada em longos minutos de diálogos e flashbacks ilustrados que explicam as teorias do livro, seguindo a fórmula de 90% de redundância e 10% de choque, típica de um best-seller. Em DVD, o filme ganhou 25 minutos inéditos, quase todos dedicados a esticar ainda mais os flashbacks. Um segundo disco traz 90 minutos de making of que também obedecem à estrutura do livro: capítulos curtos com muita informação quase sempre irrelevante, mantendo-se no nível do "como foi bom filmar em Paris" e "como é legal trabalhar com Tom Hanks". O pacote se completa, é claro, com a versão demo de um jogo de computador, que, para ser jogado na íntegra, precisa ser comprado separadamente.

O CÓDIGO DA VINCI  
Direção: Ron Howard
Distribuidora: Sony
Quanto: R$ 40, em média