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Lucélia Santos roda longa entre a China e o Brasil
"Um Amor do Outro Lado do Mundo" é filmado em estúdio no Rio e também em Pequim e na província de Emeishan
Atriz e produtora diz que filme, dirigido por Moacyr Goes, contrapõe estereótipo do "chinês mafioso" com visão amorosa do país asiático
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Acompanhados pela câmera
do diretor Moacyr Goes, os atores Chao Chen e Lucélia Santos
atravessam os jardins, sobem
as escadas e vão até a porta de
um monastério budista na província de Emeishan, na China.
O público não deverá notar a
diferença, mas, quando Luísa e
Tching -o casal formado por
Lucélia e Chen no filme "Um
Amor do Ouro Lado do Mundo"- entram no monastério, é
no Brasil que a cena ocorre.
Uma réplica do interior do
mosteiro foi construída no Pólo
de Cinema e Vídeo, em Jacarepaguá (Rio), assim como outros
14 cenários utilizados no filme,
incluindo uma loja de porcelanas e uma escola de circo.
Cada cenário dura apenas o
tempo exato de seu uso. No dia
em que se encerram as filmagens ali, ele deixa de existir.
Os objetos de decoração que
ajudam o diretor de arte Paulo
Flaksman a reproduzir em Jacarepaguá o aspecto de endereços reais na China são doados.
Todo o resto (paredes, pisos, tetos) não sobrevive à demolição.
Lucélia, que é também produtora do longa, decidiu encarar a destruição dos cenários
como um exercício budista: "É
um treinamento para a mente
sobre a impermanência e o desapego", diz ela.
Na trama do filme, cujo roteiro, assinado por Marcílio Moraes ("Vidas Opostas"), Moacyr
Goes e Caio de Andrade, foi supervisionado por lamas (sacerdotes budistas), a personagem
dela também faz um percurso
de aprendizado pelos preceitos
do budismo. A história começa
em 1990, no Brasil, onde a jornalista Luísa se vê ameaçada,
após publicar reportagens sobre organizações criminosas.
Pequim
Para se afastar do país, ela é
enviada para um trabalho na
China. Numa escola de circo,
conhece Tching, cujo passado
tem um mistério associado ao
Brasil, para onde ele decide vir,
depois do encontro com Luísa.
Aqui, os dois montam uma
escola de circo, têm um romance e um filho, Tao (Thomas Li),
que moverá a segunda parte da
história, num salto de 17 anos.
Com essa idade, Tao vai viver
no monastério budista em
Emeishan, onde Luísa e Tching
tentam encontrá-lo, na cena filmada no exterior do monastério real, em junho passado, e
num estúdio em Jacarepaguá,
no início deste mês.
"O filme tem como fundamento a idéia do carma, o entendimento budista do que é o
destino", afirma o diretor.
Lucélia diz que a história lança "um olhar amoroso para a
China", diferentemente dos filmes "que costumam retratar os
chineses como mafiosos".
Quando conversa com os chineses, Luísa fala inglês. Entre
si, os personagens chineses falam mandarim, e os brasileiros,
português. "É um filme falado
em três línguas. A crítica vai dizer que ele é mal falado em três
línguas", diz Goes, num tom
entre a ironia e a resignação ao
hábito de "apanhar da crítica".
Diretor de filmes como "Maria - Mãe do Filho de Deus" e
"Dom", ele cita o recente "O
Homem que Desafiou o Diabo"
(2007) como exemplo de um título com bom desempenho de
público, "quase 400 mil espectadores", considerando o rechaço que teve da crítica. "A crítica só faz mal ao ego. O público
é a melhor companhia", diz.
Goes visitou a China dois meses antes de filmar lá. "A gente
tem a idéia de que a China é
zen. Não é. O país parece uma
reunião do século 19 com o 21,
como se o século 20 não tivesse
existido", afirma.
O elenco asiático inclui atores não-profissionais e foi selecionado em testes com candidatos em Pequim e entre a comunidade chinesa no Brasil.
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