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"HOUSE"
"Deus me livre cair no hospital dele"
Médico vivido por Hugh Laurie seria demitido ou processado por mau comportamento e por quebra de privacidade
LEA GRINBERG
ESPECIAL PARA A FOLHA
"House" usa a medicina como pano de fundo para uma
história de detetive, que poderia estar no meio de uma série
policial, extraterrestre ou de
um mistério qualquer.
A vida real é diferente. Discutir sobre os pacientes no corredor ou no elevador é proibido.
Pode levar à suspensão pelo
Conselho de Medicina por quebra de privacidade do paciente.
Há lugares em que isso é mais
permitido. Nos EUA, a tolerância é zero. No Brasil, ainda não é
tão rígido. Mas em hospitais como o Sírio-Libanês ou o Einstein não vai haver médico discutindo caso em corredor.
Além disso, pode ser o House
(vivido pelo ator Hugh Laurie)
ou quem quiser, mas não vai
entrar no quarto do paciente
sem luva ou jaleco. Sem lavar a
mão, então, nem pensar.
Outra coisa que me incomoda é que a equipe do House conduz todos os procedimentos,
desde uma endoscopia até
olhar o resultado de uma biópsia no microscópio. Ninguém é
treinado para fazer tudo. Os
procedimentos são complexos.
Não sei de onde os roteiristas
tiram essas ideias. As respostas
para os casos até fazem sentido,
mas são exageradas. Deus me
livre cair no hospital do House.
Sendo médica, fico tentando
compor aquela história a partir
dos termos médicos. E, quando
eles mostram o diagnóstico final, os sintomas fazem sentido.
Mas eles escamoteiam outros
que seriam mais evidentes.
Todo diagnóstico segue uma
linha de pensamento a partir
do histórico do paciente. Passamos pelo corpo inteiro. As teses
são afinadas por testes laboratoriais. Não vamos fazer quimioterapia e ver o que acontece
nem fazer milhões de cirurgias
desnecessárias, antes de saber
se tem algo ali. Essas pessoas da
série são descompensadas.
Por outro lado, o programa
vai bem quando humaniza a vida do hospital. O médico também tem vida pessoal, se preocupa, tem problemas, sofre,
não é perfeito. Eu nunca vi alguém grosso como House, mas
existem médicos assim. Só
acho que ele não duraria muito
tempo na profissão, porque hoje as pessoas processam quando se sentem prejudicadas. A
maior causa de ações judiciais é
a má relação médico-paciente.
Ao final, explicito um alívio:
conheço médicos tão bem preparados quanto o House. Essa
parte não é surreal.
LEA GRINBERG é patologista e coordena o Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da USP
HOUSE - 5ª TEMPORADA
Quanto: R$ 99,90 (Universal)
Classificação: 12 anos
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