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MÚSICA
Melômanos comemoram hoje 200 anos do nascimento do compositor de `Ave Maria' e da `Sinfonia Inacabada'
Franz Schubert reinventou o sentimento
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
O compositor austríaco Franz
Schubert nasceu há exatamente
200 anos, a 31 de janeiro de 1797,
nas proximidades de Viena.
Viveria apenas 31 anos. Mas deixaria uma obra de incrível extensão -603 canções, sete missas, 130
obras para vozes, quartetos, quintetos, nove sinfonias e uma dezena
de óperas- e passaria para a história como o primeiro grande
compositor do romantismo.
Schubert é um exemplo de notoriedade póstuma. Não conseguiu
se impor como um dos grandes,
num período marcado pela reconhecida genialidade de Ludwig
van Beethoven (1770-1827).
Só ganharia seu merecido lugar
no establishment musical germânico pelas mãos de maestros e
compositores, sobretudo Felix
Mendelssohn (1809-1847), que
souberam apreciar as inovações
harmônicas com que ele reinventou algo bastante prezado no século 19: o sentimento.
São de sua autoria a ``Oitava Sinfonia - Inacabada'', a sonata ``Arpeggione'' (piano e violoncelo), o
quarteto ``A Morte e a Donzela'', o
quinteto ``A Truta'' e peças para
piano como as duas séries com oito ``Improvisos''.
Mas são seus ciclos de canções
(lieder) que o tornariam bastante
popular no século 19. Numa época
em que a música era também uma
prática doméstica, bastava um piano e vontade de cantar para que o
melômano, em família, engrossasse a multidão esparsa de schubertianos que ainda hoje existe na Europa. O compositor musicou as
palavras de todos os grandes poetas de seu tempo.
Em vida, Franz Schubert foi sobretudo um frustrado, como ele
próprio se definiu em carta escrita
aos 19 anos a um amigo. Chegou a
desfrutar de pequena notoriedade
nos salões musicais vienenses. Mas
foi rejeitado pelas casas de ópera e
pela corte dos Habsburgo.
Seus insucessos profissionais são
quase tão numerosos quanto as
partituras que integram o catálogo
de todas as suas obras.
Não conseguiu se tornar diretor
de um conservatório em Liubliana, nem seduzir Goethe sobre o
valor de seus lieder.
Jamais assistiu a uma montagem
de óperas suas, como ``Alfonso
und Estrella''.
Não se tornou, conforme desejava, o mestre-de-capela-adjunto da
corte de Viena, quando se aposentou seu ex-professor e titular do
posto, Antonio Salieri.
Schubert conviveu, conformista,
com a pobreza. Boa parte de sua
obra foi escrita sem que ele tivesse
em casa um piano para conferir no
teclado os sons que grafava nos
pentagramas.
Para completar um cenário existencial que comoveria seus hagiógrafos, ele ainda contraiu sífilis e
passou os últimos anos de sua vida
com a saúde debilitada.
São ingredientes que se aproximam com perfeição da imagem do
``gênio pobre e incompreendido,
que a posteridade resgatou''.
Ingredientes que sobretudo contrastam com as homenagens que
ele receberá agora, em 1997. Só na
Áustria, um levantamento sumário, feito por uma revista especializada, relaciona 94 exposições,
montagens líricas ou recitais a ele
dedicados.
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