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MÚSICA/LANÇAMENTOS
CATÁLOGO
Registros da histórica gravadora Fantasy incluem Sonny
Rollins e Chet Baker
Coleção traz monumentos ao deserto do jazz nacional
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eis que em meio ao deserto
chamado Lançamentos de
CDs de Jazz no Brasil surgiram alguns monumentos. Pode parecer,
mas não são miragens.
No final de 2002, sob os auspícios de Noel pai, as lojas brasileiras receberam 19 discos do pelotão de elite do jazz lançados pela
primeira vez no Brasil em CD.
O relançamento do disco laser
do álbum do vozeirão Tony Bennett com a elegância em teclado
de Bill Evans arredonda para duas
dezenas o pacote que a BMG Brasil põe no mercado. Os 20 títulos
vêm todos do mesmo endereço.
São gravações do catálogo da Fantasy Records, o maior conglomerado independente do jazz.
Lançados em formato chamado
"digipack" (capa em formato de
álbum, não as tradicionais caixinhas quebráveis de acrílico), os
CDs formam uma considerável
cordilheira do gênero de Miles
Davis, John Coltrane, Charlie Parker e Thelonious Monk.
O quarteto de pilastras jazzísticas está, por sinal, inteiro no pacote, com CDs de qualidades variáveis. Se o volume "Bags Groove", de Davis, representa em melhor estilo a excelência do trompetista (assessorado por Horace
Silver, Milt Jackson etc.), "Bird at
St. Nick's" só joga areia no fenomenal sax de Charlie Parker, em
gravação de péssima qualidade.
Mas não está no lançamento de
medalhões já mais representados
e conhecidos no Brasil, como o
também ótimo "Mingus at the
Bohemia", de Charlie Mingus, o
grande mérito da série.
O Everest da coleção talvez seja
"Saxophone Colossus", de Sonny
Rollins, título que não chega a ser
exagerado para o CD.
Gravado em 1956, com a impecável escolta percussiva de Max
Roach, o disco exibe uma das
grandes performances de um sax
tenor na história do jazz.
Rollins, que aos 72 anos ainda
assopra o instrumento, também
mostra em "Colossus" a sua outra
grande faceta, a de compositor.
É no disco que ele apresenta pela primeira vez os temas "Blue Seven" e "St. Thomas", calipso que
entraria para o cânone jazzístico,
com mais de 200 gravações.
Ainda no capítulo saxofone, o
pacote de pérolas da Fantasy (gravadas originalmente em outros
selos comprados por esta, como
Prestige, Riverside e Contemporary) também tem outros momentos áureos de artistas pouco
(ou não) lançados no país.
Explodindo de suíngue, o álbum "The Cannonball Adderley
Quintet in San Francisco" é um
deles. O sax alto de Adderley
(1928-1975), que não ganhou o lugar que deveria no panteão, crava
aqui, na companhia do irmão
trompetista Nat, alguns dos pontos capitais do soul jazz, como os
temas "This Here" e "Spontaneous Combustion".
Mais comportado, e de elegância imbatível, o sax alto de Benny
Carter também tem um de seus
picos prensado no Brasil.
"Jazz Giant", de 1957, reúne o
sopro amadurecido do então cinquentão Carter (hoje com 95
anos), um repertório de classudas, como "Old Fashioned Love",
e a companhia de um time de estrelas do jazz da Costa Oeste: o
guitarrista Barney Kessel, o baterista Shelly Mane (dupla que aliada ao baixista Ray Brown também
tem ótimo CD na jogada: "The
Poll Winners"), o baixista Leroy
Vinnegar e o pianista André Previn.
Também do Pacífico americano
chega pela primeira vez aos CDs
nacionais outro sax-alto degraus
abaixo do que deveria na história.
Art Pepper (1925-82) estava na
crista em 1959, quando registrou
este "Modern Jazz Classics", com
composições emblemáticas do
bop, hardbop e cool e o nada discreto acompanhamento de 11
músicos. Mesmo em meio à correnteza da heroína, que levou entre tantos Chet Baker (com dois
CDs no pacote), Pepper aparece
com o sopro ágil e preciso.
Saltando dos saxofones ao piano, chegamos a outro dos monumentos do conjunto de discos.
"Portrait in Jazz" é a primeira gravação em estúdio de Bill Evans
(1929-1980) com seu trio mais importante: Scott LaFaro no baixo e
Paul Motian na bateria. O fraseado e a harmonia sofisticados de
um dos grandes pianistas dos cem
anos de jazz, diálogos finos com o
erudito, aparecem neste CD decompondo standards, como "Autumn Leaves" e "What Is This
Thing Called Love".
Nesse álbum impecável, porém,
fica à mostra um dos pecados da
coleção. O som da alardeada remasterização digital em 20 bits
não é sempre cristalino como deveria para um pacote desta importância. O baixo de LaFaro, estourado, é exemplo.
Resta torcer para que a BMG
afine as máquinas e continue
prensando outras tantas maravilhas do acervo Fantasy (e de preferência abaixo dos atuais R$ 35).
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