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"OS CIENTISTAS DE HITLER"
Herói Heisenberg perde seu posto
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Terminada a Segunda Guerra Mundial, dez dos principais cientistas alemães foram
mantidos sob guarda britânica
em uma casa perto de Cambridge,
conhecida como Farm Hall. A
maioria havia realizado, direta ou
indiretamente, pesquisas ligadas
à energia nuclear sob o governo
nazista. Entre eles estava Werner
Heisenberg (1901-1975), vencedor
do Prêmio Nobel de 1932 por seus
estudos com mecânica quântica.
Essa "prisão domiciliar" tinha o
objetivo de descobrir até que ponto os alemães estiveram próximos
de produzir a bomba atômica.
"Ali estavam os maiores físicos
da Alemanha (...) discutindo entre si, sem saberem que estavam
sendo gravados", escreve o historiador inglês John Cornwell no livro "Os Cientistas de Hitler -Ciência, Guerra e o Pacto com o Demônio", lançado no Brasil.
Seu livro trata de quase tudo o
que foi feito na ciência, principalmente na ciência alemã, do período entreguerras até 1945. Há as
pesquisas de foguetes de Werner
von Braun, os estudos médicos
desumanos com prisioneiros dos
campos de concentração, o desenvolvimento de gases venenosos, a perseguição aos cientistas
judeus e o esforço americano de
desenvolver a bomba.
No entanto, seu momento mais
contundente se fixa no papel de
Heisenberg em suas pesquisas
nucleares. Após o final da guerra,
o cientista ajudou a criar ao redor
de si uma imagem de herói: ele e
outros pesquisadores davam a
entender que souberam fabricar
uma bomba, mas fizeram o possível para atrasar sua produção.
Cornwell afirma o contrário. Segundo ele, as gravações, mantidas
em segredo por 50 anos, dão mostras suficientes de que o cientista
alemão só não criara a bomba
porque não sabia como fazê-la;
apesar de ser um excelente teórico, Heisenberg não soube reunir
esforços práticos para coordenar
a iniciativa de sua produção.
"Era visivelmente a pessoa errada para dirigir o programa da
bomba atômica nazista, e sua liderança morna, fragmentada e
distraída foi quase sem dúvida
um fator importante na ausência
de progresso", escreve Cornwell.
"Porém, o que sabemos com certeza, também, é que ele apoiou os
objetivos de guerra de Hitler."
Segundo Cornwell, Heisenberg
"se tornara moralmente anestesiado para as atrocidades do regime". O mesmo aconteceu com
outros. O engenheiro Werner von
Braun (1912-1977), que estudou a
balística de mísseis e, após a guerra, ajudou a desenvolver para os
EUA os foguetes que levaram o
homem à Lua, apoiava o uso de
trabalho escravo no centro de desenvolvimento de foguetes.
O livro de Cornwell, muito
abrangente, dedica suas páginas
finais à ciência que veio após a Segunda Guerra e fala da responsabilidade dos cientistas atuais,
principalmente com relação às
pesquisas de armas nucleares.
Ele cita o caso dos EUA, em que
o governo de George W. Bush voltou a investir em sistemas de defesa e em uma nova geração de
bombas atômicas, e completa:
"Os cientistas tendem a abdicar
da responsabilidade, supondo
que seus governos democraticamente eleitos sempre sabem o
que é melhor. Essa suposição é ingênua ao extremo".
(MF)
Os Cientistas de Hitler
Autor: John Cornwell
Editora: Imago
Quanto: R$ 60 (456 págs.)
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