São Paulo, segunda, 31 de março de 1997.

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BAHIA
Escritor baiano deve ir ao lançamento do terceiro número dos `Cadernos de Literatura Brasileira' em Salvador
Amado ganha homenagem em revista

CASSIANO ELEK MACHADO
free-lance para a Folha

A mesma praça que assistiu Tereza Batista comandar uma greve de prostitutas, a morte de Pedro Arcanjo e a ressurreição de Quincas Berro Dágua observa hoje uma homenagem ``formidável'' ao criador desses personagens.
A opinião é do próprio Jorge Amado, 84, que participa hoje do lançamento do terceiro número dos ``Cadernos de Literatura Brasileira'', no Pelourinho, Salvador.
A publicação semestral do Instituto Moreira Salles chega hoje às livrarias com cheiro de cravo e canela, perfume que o escritor garante ainda sentir no ar da Bahia.
Em 1923, quando Amado tinha 11 anos, seu professor leu a redação ``O Mar'' e sentenciou: ``Este vai ser escritor''.
Amado, cujos 32 livros se multiplicaram em 20 milhões de exemplares só no Brasil, disse à Folha que, desde que o padre Luiz Gonzaga Cabral disse essa frase, foram poucas as ocasiões em que não esteve rabiscando algum texto.
Atualmente, Jorge Amado diz que está apenas descansando. Ele ainda se recupera de cirurgia a que se submeteu no final de 1996.
Como boa parte dos escritores, ele diz que seus romances são como filhos. Mas Jorge Amado acha que não vale a pena relê-los.
As 164 páginas em papel cuchê da revista-homenagem, que o escritor garante que leu cuidadosamente, seguem o padrão dos números anteriores, dedicados aos escritores brasileiros João Cabral de Melo Neto e Raduan Nassar.
"Cadernos" disseca a obra do ``velho marinheiro'' das ``Terras de sem fim'' em nove seções.
``A Vida e a Vida do Menino Grapiúna'' é uma cronologia alentada da biografia de Jorge Amado.
Os dados da vida do escritor, desde o nascimento na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito da cidade de Itabunas (BA), até a escolha de Tieta como tema do Carnaval de Salvador de 1997, são intercalados por fotografias, muitas feitas pela escritora Zélia Gattai, mulher e ``escudeira'' de Amado.
Em seguida, estão textos de Darcy Ribeiro, Nelson Pereira dos Santos, Celso Furtado, Alice Raillard (tradutora de Amado para o francês), Mário Vargas Llosa e Oscar Niemeyer sobre o escritor.
O "ABC de Amado" continua com uma entrevista recheada por 110 perguntas, realizadas por personalidades culturais e pelos editores da revista, Antonio Fernando De Franceschi e Rinaldo Gama.
Depois de muito texto, o caderno ``respira'' com 19 páginas apenas com fotografias de Eduardo Simões, que se empenhou para reconstruir a ``geografia pessoal'' do autor, entre Salvador e Ilhéus.
Ilustrado por Carybé, o ``borrão das duas cenas iniciais de `A Apostasia Universal de Água Branca''' abre a seção de inéditos, que conta com bilhetes que Pablo Neruda, Otto Lara Resende e Mário de Andrade deixaram para o escritor.
Depois de muitos confetes, a revista une três reflexões críticas sobre a literatura amadiana, feitas por Roberto DaMatta, Fábio Lucas e Eduardo de Assis Duarte.
A publicação deságua, então, em navegação de cabotagem ao redor da extensa produção do autor.
O ``Guia Jorge Amado'' reúne as traduções, entrevistas, documentários e a bibliografia completa, inclusive com títulos que Amado diz que não estariam em suas ``obras completas'', como é o caso de ``Lenita'', novela escrita em 1929.
A festa de lançamento é aberta. Como falou Amado, ``se é de paz, pode entrar, diz-se na Bahia''.

Revista: Cadernos de Literatura Brasileira/Jorge Amado Preço: R$ 18 (164 páginas) Onde: Fundação Casa de Jorge Amado (lgo. do Pelourinho, Salvador) Quando: hoje, a partir das 19h
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