São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Rod é rock

Em entrevista no México, o cantor britânico afirma que, em São Paulo e Rio, vai privilegiar canções antigas de sua carreira, e não covers de músicas americanas

Pool-Class.com
Rod Stewart em show no México, onde interpretou grandes sucessos


SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Boas notícias para os fãs de velha guarda de Rod Stewart. O roqueiro britânico não incluirá nos shows que dará no Brasil nesta semana as versões cover de clássicos da canção norte-americana que vêm fazendo desde 2002 dentro do projeto "Great American Songbook".
No repertório dos espetáculos em São Paulo, na sexta-feira, e no Rio de Janeiro, no sábado, o destaque será a longa lista de hits importantes de sua própria carreira, como "Baby Jane" e "Tonight's the Night".
Em entrevista à Folha na Cidade do México, na última sexta-feira, Stewart, 63, disse que não se trata de nostalgia, mas que decidiu deixar de lado essas releituras recentes por não combinarem com seus sucessos dos anos 1970, 1980 e 1990. "Adorei fazer os discos de covers, mas eles não funcionam no palco quando misturados às coisas do meu passado", diz. O cantor londrino, de ascendência escocesa, começou a carreira dentro da tradição do blues e do rock.
O primeiro salto foi entrar no grupo do guitarrista Jeff Beck; o segundo, integrar a banda The Faces, ao lado do hoje membro dos Rolling Stones Ron Wood.
Nos anos 1980, veio uma fase mais pop, em que estouraram hits como "Young Turks" e "Some Guys Have All the Luck". A década seguinte foi meio opaca, mas, ao virar o século, Stewart fez uma aposta arriscada, que deixou parte dos fãs de nariz torcido.
Foi, justamente, a fase em que gravou os quatro álbuns do "Songbook", reinterpretando temas históricos da música dos EUA, como "As Time Goes By", "My Funny Valentine" etc.
Se para alguns essa guinada pareceu uma heresia, comercialmente foi um êxito notável. Juntos, esses discos venderam mais de 16 milhões de cópias.
Em 2006, Stewart começou a tentar resgatar os fãs mais tradicionais com "Still the Same", também um álbum de covers, só que, desta vez, só de rock.

Cultura pop
Pedi-lhe que comentasse o fato de que, em 2008, completam-se quatro décadas de vários momentos-chave para a história da cultura pop. Quarenta anos do Maio de 68, do lançamento do "Álbum Branco" dos Beatles, e de sua primeira turnê nos EUA, ao lado do parceiro Jeff Beck. "Meu Deus, faz tanto tempo", disse, colocando as mãos na cabeça ainda coberta pelos fartos cabelos louro-grisalhos e o tradicional corte espetado.
O cantor, que vive em Los Angeles há mais de 30 anos, mas mantém o sotaque britânico, relembra: "Foram anos de aprendizagem. Quando comecei, não tinha nem idéia de como devia acompanhar as mudanças de andamento de um blues. Ao mesmo tempo, coisas estavam mudando, havia uma agitação positiva no ar."
O cantor não acha, porém, que o rock esteja muito diferente. "Em termos de estrutura musical e dos temas, continua parecido. E isso é também o que faz do rock algo maravilhoso. Hoje, poucas coisas me surpreendem. Minha filha me levou para ver o Arcade Fire [banda canadense]. Estes fazem algo original. Se há um futuro para o rock, é por aí."
O primeiro grande sucesso de Stewart como cantor solo foi "Maggie May" (1971), que era o lado B de um single, a música "Reason to Believe". Por obra do acaso, um belo dia um DJ de rádio decidiu virar o disco e tocar o outro lado do compacto.
Foi aí que sua carreira deslanchou. Mas o que teria acontecido se não fosse esse gesto? "Não faço idéia, a única outra coisa que sei fazer é jogar futebol, e não muito bem", ri.

Futebol
O esporte é uma obsessão antiga do mais célebre torcedor do time escocês Celtic. Na madrugada de sexta para sábado, sua equipe jogaria uma partida decisiva contra o rival Rangers.
"Já perguntei para todo mundo aqui no hotel como faço para assistir, mas não vai dar mesmo. A solução vai ser tomar algo para dormir e só saber do resultado amanhã [o Celtic acabou perdendo por 1 a 0].
Em sua residência britânica, Stewart tem um campo de futebol oficial, onde convida equipes famosas para treinar. Também ali atuava com o seu Vagabonds Football Club. "Agora já não jogo mais, fiz três operações neste joelho e uma no outro", diz, apontando para as pernas. Puxa, parece o Ronaldo! "Sim! Pobre Ronaldo, fiquei muito triste porque para ele a coisa acabou. E é uma pena que não saiba cantar", diz, com uma pitada de humor negro.
Conta que ficou impressionado com o gol de Pato contra a Suécia ("esse menino vai ficar rico") e, animado com o assunto, inverte a situação e começa a disparar perguntas: "Qual é maior clássico do futebol brasileiro?", "Que time popular tem o uniforme com faixas vermelhas e pretas?". "Como se chama mesmo aquele velhinho, que foi jogador e técnico e que está sempre no banco?". Zagallo? "Isso, acho lindo como mostra paixão pela seleção."
Diz que, no Rio, quer ir à praia. "Ainda se joga futebol na areia? Puxa, eu posso ficar vendo aquilo por horas seguidas!" Stewart já esteve no Rio em duas ocasiões: no Rock in Rio de 1985 e na praia de Copacabana, em 1994. "O primeiro show foi horrível, tudo atrasava, um caos. No segundo, eu estava doente. Foi péssimo." Mas e agora? "Vai dar tudo certo e serão noites fantásticas", sorri.

Natal
Se a atual turnê é uma alegria para os que gostam do velho Stewart, o que vem por aí não é lá muito animador. O cantor anuncia que o próximo projeto será um CD com músicas de Natal. "Mas não músicas de Natal piegas", adverte. Mas existem? "Sim, você verá!", responde. "Eu estou numa idade em que posso fazer o que sempre quis. E esse é um desejo antigo.
Depois farei outro de country, de blues, de canções americanas, sei lá."


A jornalista Sylvia Colombo viajou a convite da produtora Time for Fun

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