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Crítica/"Os Famosos e os Duendes da Morte"
Em estreia, cineasta foge de temas batidos da produção nacional
Esmir Filho mistura vida pacata em povoado do RS com mundo da internet para mostrar conflitos da adolescência
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
"Os Famosos e os
Duendes da Morte" chega aos cinemas desafiando noções fáceis
de brasilidade. Na tela, nenhum
dos usuais suspeitos da nossa
cinematografia: praia e favela,
asfalto e aridez, violência e malemolência, tragédia social e
chanchada televisiva.
Mas, evidente, o longa-metragem de estreia do cineasta
Esmir Filho (do curta "Tapa na
Pantera") não é menos brasileiro que qualquer filme brasileiro. Baseado num romance do
jovem gaúcho Ismael Caneppele, filmado com atores amadores da região do vale do Taquari, com trilha do compositor local Nelo Johann, "Os Famosos"
apenas mostra um pedaço e
uma ideia de país pouco visitados pelo cinema nacional: um
povoado de raízes alemãs do interior do Rio Grande do Sul.
Ali mora o protagonista
(Henrique Larré), adolescente
que vive em dois mundos. No
real, enfrenta o vazio -literal e
figurado- da cidade pequena, o
tédio no cotidiano, o silêncio no
convívio com a família. No virtual (que ele considera ainda
mais real), se reinventa como
Mr. Tambourine Man, tem um
blog, um milhão de amigos e
uma paixão platônica por uma
garota que publica vídeos na rede, chamada Jingle Jangle
(Tuane Eggers). Em um certo
momento, os universos antes
paralelos começam a convergir
para misteriosas intersecções.
Como já havia demonstrado
em seus curtas, o esforço central de Esmir Filho parece ser
traduzir os sentimentos de inadequação e insegurança típicos
da adolescência. Sua estratégia
é incomum nos filmes brasileiros: um cinema sensorial, baseado menos na palavra que na
atmosfera, estabelecida na
combinação de imagem e som
ora onírica ora fantasmagórica.
Nesse sentido, o retrato juvenil
do filme é mais próximo do
americano Gus Van Sant do
que do gaúcho Jorge Furtado.
Embora recaia em certos excessos que podem ser vistos como firulas visuais, Filho conseguiu algo que cineastas mais
experientes raramente alcançam. Criar um universo próprio e palpável, que pode ser
percorrido pelo espectador em
distâncias que vão além das
mostradas na tela. E construir
uma visão sólida sobre o instável tema que aborda, mostrando a adolescência como uma
etapa cujas fronteiras são sentimentais, não geográficas.
OS FAMOSOS E OS DUENDES
DA MORTE
Diretor: Esmir Filho
Produção: Brasil, 2009
Com: Henrique Larré, Tuane Eggers
Onde: estreia na sex.
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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