São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2010

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Crítica/"Os Famosos e os Duendes da Morte"

Em estreia, cineasta foge de temas batidos da produção nacional

Esmir Filho mistura vida pacata em povoado do RS com mundo da internet para mostrar conflitos da adolescência

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

"Os Famosos e os Duendes da Morte" chega aos cinemas desafiando noções fáceis de brasilidade. Na tela, nenhum dos usuais suspeitos da nossa cinematografia: praia e favela, asfalto e aridez, violência e malemolência, tragédia social e chanchada televisiva.
Mas, evidente, o longa-metragem de estreia do cineasta Esmir Filho (do curta "Tapa na Pantera") não é menos brasileiro que qualquer filme brasileiro. Baseado num romance do jovem gaúcho Ismael Caneppele, filmado com atores amadores da região do vale do Taquari, com trilha do compositor local Nelo Johann, "Os Famosos" apenas mostra um pedaço e uma ideia de país pouco visitados pelo cinema nacional: um povoado de raízes alemãs do interior do Rio Grande do Sul.
Ali mora o protagonista (Henrique Larré), adolescente que vive em dois mundos. No real, enfrenta o vazio -literal e figurado- da cidade pequena, o tédio no cotidiano, o silêncio no convívio com a família. No virtual (que ele considera ainda mais real), se reinventa como Mr. Tambourine Man, tem um blog, um milhão de amigos e uma paixão platônica por uma garota que publica vídeos na rede, chamada Jingle Jangle (Tuane Eggers). Em um certo momento, os universos antes paralelos começam a convergir para misteriosas intersecções.
Como já havia demonstrado em seus curtas, o esforço central de Esmir Filho parece ser traduzir os sentimentos de inadequação e insegurança típicos da adolescência. Sua estratégia é incomum nos filmes brasileiros: um cinema sensorial, baseado menos na palavra que na atmosfera, estabelecida na combinação de imagem e som ora onírica ora fantasmagórica.
Nesse sentido, o retrato juvenil do filme é mais próximo do americano Gus Van Sant do que do gaúcho Jorge Furtado. Embora recaia em certos excessos que podem ser vistos como firulas visuais, Filho conseguiu algo que cineastas mais experientes raramente alcançam. Criar um universo próprio e palpável, que pode ser percorrido pelo espectador em distâncias que vão além das mostradas na tela. E construir uma visão sólida sobre o instável tema que aborda, mostrando a adolescência como uma etapa cujas fronteiras são sentimentais, não geográficas.


OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE

Diretor: Esmir Filho
Produção: Brasil, 2009
Com: Henrique Larré, Tuane Eggers
Onde: estreia na sex.
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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