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Teórico central da cultura na era da Internet, Pierre Lévy prega otimismo sobre novas tecnologias
Quem tem medo do ciberespaço?
Antonio Pacheco/RBS
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O filósofo Pierre Lévy, que teve o livro "O Fogo Liberador" recém-lançado pela editora Iluminuras, está de passagem pelo Brasil |
Escritor francês lança dois livros, vai ao programa de televisão "Roda Viva" e dá palestra hoje na Folha
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Professor da Universidade de Paris diz que Internet é a maior arma contra totalitarismos
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DANIELA DARIANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Num mundo de nostálgicos e
críticos, ele tornou-se polêmico
por prever o futuro com otimismo e criatividade. O francês Pierre Lévy, 43, é um dos grandes pensadores e pesquisadores da evolução cultural da atualidade, o primeiro a encarar o ciberespaço
sem medo.
Com seu livro "O Fogo Liberador", recém-lançado em português pela Iluminuras, está mais
uma vez no Brasil para um ciclo
de palestras no Rio Grande do Sul
e será o próximo entrevistado do
programa "Roda Viva", da TV
Cultura, na segunda-feira.
Assumindo seu papel de filósofo, ele rebate os críticos que o chamam de ingênuo e diz apenas
participar de uma conversa global, que inclui até mesmo Pascal
(1623-1662). Em sua passagem
por Porto Alegre, onde fez parte
de um seminário sobre novas linguagens, na PUC-RS, Lévy conversou com a Folha.
Folha - Suas visitas ao Brasil não
frustram a idéia de que estamos
construindo um mundo melhor, já
que tantas pessoas estão fora da inteligência coletiva no mundo virtual?
Pierre Lévy - Acho que ninguém
está fora da inteligência coletiva.
Se você é humano, está dentro da
inteligência coletiva. Você está conectado pela língua, por tradições, por sua família, seus amigos,
seu trabalho, ou até por sua ausência de trabalho. Mas há níveis
de conexão. Se você está conectado à Internet, terá mais chance de
estar em contato com outras culturas. É uma questão de níveis,
não de exclusão.
Mas não é só minha a idéia de
pensar em uma ecologia humana,
em incluir os excluídos. Imagino
que seja a idéia de todo mundo. E
não serei eu quem incluirei as pessoas. Se não é o objetivo de toda a
sociedade, não acontecerá.
Folha - E o senhor acha que estamos criando algo melhor?
Lévy - Sim, mas num sentido
muito preciso. Melhor é a abertura do espaço para a escolha de formas diferentes. É mais liberdade,
mais responsabilidade e mais
conflitos entre o que é bom e o
que é ruim. Isso é evolução, que
não se dirige a um lugar determinado, mas abre o espaço de possíveis formas de relações, de processos, de pensamentos.
Folha - Inteligência coletiva não
implica ignorância individual?
Lévy - Inteligência coletiva é a
condição humana. Somos inteligentes porque estamos fazendo
significados. Quanto mais rica for
uma cultura, mais aumentarão as
riquezas emocionais, intelectuais
e pessoais. Assim, existe uma relação entre a riqueza de uma cultura e a abertura das mentes de seus
indivíduos. Se houver muita gente inteligente trabalhando junta, a
inteligência coletiva será maior.
Folha - Em "O Que É o Virtual",
momentos históricos são citados
para datar o início da onda de virtualização. Quando ela começou?
Lévy - É um processo evolutivo.
Talvez tenha começado com o
início da vida, com o DNA, um
corpo virtual. Talvez tenha começado com o sistema nervoso.
Folha - Seus livros mostram uma
visão muito otimista do futuro com
a Internet e com as novas tecnologias. Somente em alguns momentos são mencionados os perigos inerentes ao processo. Quais são eles e
por que não discuti-los?
Lévy - Porque estamos sempre
ouvindo sobre eles. Então, tento
ser útil e não falar do que todo
mundo sabe. Os perigos da Internet são os perigos da condição
humana. Sempre haverá agressividade, e o fato de a Internet existir não a suprime. Se você observar a configuração da comunicação no nazismo e no fascismo, verá grandes centros de emissão de
mensagem controlados pelo partido, pelo Estado ou pelo ditador.
E ninguém mais tem o direito de
se expressar. Não há comunicação horizontal. A comunicação é
sempre vertical. A Internet é exatamente o contrário. Todo mundo pode falar com todo mundo, e
a comunicação é completamente
horizontal. A conversa livre previne totalitarismos.
Folha - Seus críticos dizem que o
senhor tem um ponto de vista ingênuo. E, em seus livros, o senhor às
vezes parece dar dicas. Para garantir um futuro criativo e integrado é
preciso ler Pierre Lévy?
Lévy - Está havendo uma conversa generalizada sobre o que tudo isso significa. O que estamos
fazendo agora? Como podemos
construir uma sociedade melhor?
Todo mundo quer isso. Eu só participo dessa conversa e tento expressar visões originais para ser
construtivo. Se repitir o que a mídia fala, não cumprirei meu papel
de filósofo. Um filósofo não deve
dizer o mesmo que os jornalistas.
Já estamos conscientes dos perigos. Se pensarmos apenas neles,
não poderemos criar um futuro
melhor. O medo não é inteligente
nem generoso.
Folha - Para fazer parte da inteligência coletiva é preciso saber inglês?
Lévy - Claro que será melhor se
você souber inglês, porque ele está se tornando a língua franca da
ciência, dos negócios, do turismo.
É útil falar inglês. Não é contraditório. É preciso perceber nossas
próprias experiências, não ideologias. Mas isso não significa esquecer sua língua original, claro.
Folha - O texto não perde espaço
para as imagens na Internet?
Lévy - As imagens são uma forma bem antiga de comunicação.
Se você vai à igreja, você vê todas
aquelas estátuas e aqueles quadros, tudo muito antigo. Nesse
ambiente de imagens, estátuas e
arquitetura, está o padre que fala e
o texto. A comunicação humana
sempre tem todas as dimensões:
música, dança, quadros, estátuas.
Por que temer que o texto desapareça? Se você navega na Internet, é
só texto, texto, texto.
Folha - Em seus livros, o senhor
prevê o futuro. Já foi corrigido pela
realidade? O futuro já se tornou
passado em suas expectativas?
Lévy - Sim. Acho que fui tímido
em minhas previsões. O futuro é
sempre mais incrível do que imagino. Em meu livro "As Tecnologias da Inteligência", de 1990, disse que o futuro do texto seria o hipertexto em rede global. Mas isso
aconteceu antes mesmo da
"world wide web".
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