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MÚSICA ERUDITA
Graves agrava caso agudo da Sinfônica
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Denyce Graves não barateia.
Julius Rudel é um grande regente. A Orquestra Sinfônica Municipal deu o máximo de si. Mesmo assim, ficou faltando alguma
coisa no concerto de anteontem,
em São Paulo, embora não seja fácil dizer o quê.
O nome é Graves, mas ela é boa
de agudos. Equilíbrio é um de
seus pontos fortes. O principal é o
timbre: uma soprano com timbre
de contralto. Canta tudo com domínio de tudo, embora não tenha
dado tudo no Municipal.
Ensina-se às crianças que não se
deve dizer "show" de música clássica. Mas o repertório de terça era
de show: 16 peças, alternando solista e orquestra, mais o Coral Lírico nos excertos de "Carmen". E
Denyce e seus quatro vestidos encenam as árias na melhor tradição
do entretenimento americano.
Sem ironia: ela é uma artista consciente e generosa. Sublinhe-se
"melhor" na frase acima.
O verdadeiro show foi do maestro Julius Rudel, diretor da City
Opera há 37 anos. Que prazer ver
um regente desses, tocando a orquestra como um violão e tratando o pódio como um banquinho.
Já regeu tudo, sabe tudo e continua fazendo música -sem espanto, sem cansaço, sem agonia.
Arrancou vinho da pedreira e
conseguiu fazer a Sinfônica tocar
relativamente bem do início ao
fim. Crítico generoso: a orquestra
melhorou, não envergonha,
acompanha cantores com esmero. Crítico duro: não tem identidade, o desnível de naipes é óbvio,
não toca mais do que uma orquestra universitária do interior
dos EUA -muito pouco para
quem carrega o nome da cidade.
Eis uma idéia para os Patronos:
patrocinar a Sinfônica. A orquestra está pronta para crescer. É um
verdadeiro privilégio escutar
grandes solistas em São Paulo;
mas não chega a criar vida musical. E a Sinfônica pode ser outra
orquestra, se deixarem, se quiserem, se puderem.
Na soma de tudo, ficou faltando
alguma coisa. Graves não cantou
agudos impossíveis, nem trinados
vertiginosos. Não foi isso. O fato é
que a gente mal sai de um concerto desses e já esqueceu. Transcendência relativa do ar: zero. Ficou
faltando alguma coisa. Talvez
música?
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