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Cebrap põe seus clássicos na internet
Já é possível ler revistas esgotadas do centro de pesquisa, que reúnem nomes como FHC, Roberto Scwharz e Francisco de Oliveira
Período áureo de produção intelectual na "Novos Estudos" pretendia fazer a crítica "a quente" da sociedade brasileira
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"A situação é péssima, excelente para fazer uma revista"
(uma coisa que Roberto
Schwarz tem sabido fazer é escrever textos que não perdem a
atualidade; culpa da sociedade
brasileira, quem sabe).
A frase do crítico literário
conclui o texto introdutório à
primeira revista "Novos Estudos", de 1981, editada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), publicação que viria, nos anos seguintes, a reunir a nata da intelectualidade num objetivo comum: pensar, a quente, o país.
Artigos importantes reunidos ali, e sem edição posterior,
de gente como o próprio
Schwarz, os sociólogos Francisco de Oliveira e Fernando
Henrique Cardoso, o filósofo
José Arthur Giannotti, os economistas Celso Furtado e Paul
Singer, o crítico Antonio Candido e outros, estavam perdidos junto com as revistas, esgotadas, especialmente as do seu
período mais combativo, de
fins da ditadura e transição para a democracia, nos anos 80.
Voltam agora a público com a
digitalização e acesso possível
na internet, no site do Cebrap
(www.cebrap.org.br). A leitura da íntegra dos textos só é
permitida aos assinantes da
"Novos Estudos", privilégio
que custa R$ 45 anuais.
O atual editor do periódico,
Flávio Moura, explica que o
trabalho de digitalização de números antigos começou a ser
divulgado no site do Cebrap em
fevereiro passado. A publicação
"eletrônica" de todos os números só deve ficar pronta, no entanto, daqui a três meses.
De certa maneira, o acesso
pela internet cumpre, com
atraso, um dos objetivos daquela revista que surgia em
1981. Filhos da antiga "Estudos", os "Novos" pretendiam
ser mais acessíveis, em textos
mais curtos, ligados mais diretamente à conjuntura do país,
projeto que se refletia no formato, mais leve, com cara de
revista "comum", grampeada.
"Achamos que a revista devia
interferir mais no debate, ser
mais ágil", explica Francisco de
Oliveira, responsável direta ou
indiretamente pela sua edição
de 1981 a 1987. "Mas ela não
conseguiu ir para as bancas,
custava muito caro. Não conseguimos ter uma penetração
maior do que tínhamos antes."
De toda forma, suas páginas,
naquele período, reuniram artigos que já podem ser considerados clássicos, como a análise
que Antonio Candido fez da relação entre intelectuais, produção cultural e o Estado brasileiro sob Getúlio Vargas, em "A
Revolução de 1930 e a Cultura", de 1984. Ou "Complexo,
Moderno, Nacional e Negativo", também de Schwarz, um
desenvolvimento de seus estudos sobre a obra de Machado
de Assis, do primeiro número.
No segundo, além de um
"dossiê" sobre "A Literatura e a
Pobreza", que reuniu expoentes da crítica literária do país
(entre outros, Silviano Santiago, Alfredo Bosi e Modesto Carone), há a colaboração -hoje
impensável- de Oliveira e
FHC, no texto "Partidos, Estados e Movimentos Sociais".
Como se sabe, os dois antigos
colaboradores seguiram caminhos políticos distintos.
Essas reuniões e certa amizade foram também elas possibilitadas pela conjuntura política e social do país e, desfeitas,
ajudam a explicar o momento
áureo que a revista viveu e as
mudanças pelas quais passou
depois.
Num texto a ser publicado no
próximo número da "Novos
Estudos", Rodrigo Naves, que
foi seu editor entre 1987 e 1995,
analisa dois aspectos cruciais
na mudança de feição do Cebrap -e que tiveram conseqüências indiretas para a revista. A divisão de seus pesquisadores entre PT e PSDB, acirrada na década de 90, e a mudança de perfil das produções da
casa, que, como no restante do
país, passaram a se apoiar "em
pesquisas empíricas metódicas
e extensas e em questões específicas de recorte claro".
Francisco de Oliveira lembra
que a ditadura, de certa maneira, os uniu, e a chegada de FHC
ao poder terminou por desunir
muita gente. No entanto, mais
de uma década depois-e muitos bons artigos continuaram a
ser editados nesse período-, a
nos fiarmos nas palavras de
Schwarz, as condições para se
fazer uma boa revista continuam ótimas.
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