|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO
Crítica
"Gabbeh" expõe retratos sensíveis
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Se há um cineasta que alterna altos e baixos, esse é Mohsen
Makhmalbaf. Ele é capaz de
baixezas meramente comerciais, como "O Caminho de
Kandahar", crítica óbvia aos
clérigos radicais que forçam
mulheres a usar a burca etc.
Mas Mohsen também pode
fazer "Gabbeh" (Futura, 22h,
não indicado para menores de
12 anos).
A trama, se é que existe, diz
respeito a uma jovem que, impedida de encontrar seu amado, sublima a paixão tecendo
sua história com fios e criando
um tapete.
E daí viria a fama dos gabbeh,
tapetes que trazem inscritas
não meramente histórias, mas
a história daquele que a tece, isto é: cada tapete contém uma
existência. Ou ainda: para chegar à composição de um belo
tapete é preciso depositar nele
o melhor de sua existência.
Isso vale, é claro, para um filme ou um romance, para toda
obra de arte, enfim, e daí vem a
beleza do filme: toda arte começa por uma impossibilidade,
amorosa ou não. Trata-se de
um desvio de objetivo, de uma
frustração que vai, ao final,
produzir encantamento.
Metáfora da obra de arte,
"Gabbeh" busca com delicadeza mostrar as pessoas e o lugar
onde se produzem esses retratos tão sensíveis da vida.
Algo que está além, muito,
das contingências da política
no Oriente Médio, no Irã em
particular, que produz morte
onde as pessoas sinalizam vida
com muita intensidade.
Texto Anterior: Bia Abramo: Ronaldo, do inferno ao céu Próximo Texto: Resumo das novelas Índice
|