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OPINIÃO DENNIS HOPPER
Figura difícil, Hopper se confundia com personagens
Em grandes filmes ou em "bombas", o ator construiu tipos inesquecíveis
Com o sucesso de "Sem Destino", virou um megalômano insuportável, brigou de porrada com suas mulheres e foi ridicularizado
ESPECIAL PARA A FOLHA
No programa "Fishing
With John" (disponível no
YouTube), o músico John Lurie levava alguns amigos para pescar com ele. Com Dennis Hopper, foram necessários dois programas.
E não era uma pesca comum. Hopper não aceitaria
sair de casa para sentar com
uma vara na beira de um rio.
O que eles queriam era pescar a lula gigante.
É claro que não conseguiram, mas o programa se tornou um tratado sobre como
transformar o tédio em uma
experiência fascinante.
Hopper sempre esteve na
cena -não exatamente no
centro da cena. Mas estava
lá, atento e imprescindível,
mesmo como coadjuvante.
Com James Dean em "Juventude Transviada" (1955),
lendo Stanislavski enquanto
aguardava para filmar. Com
Peter Fonda e Jack Nicholson
no mítico "Sem Destino"
(69). Chapado com Marlon
Brando em "Apocalypse
Now" (79).
Vivendo o pai bêbado e filósofo de Matt Dillon e Mickey Rourke em "O Selvagem
da Motocicleta" (83), ou o
barman insidioso de "Indian
Runner" (91), do amigo Sean
Penn. Interpretando o psicopata mais estranho dos anos
1980 em "Veludo Azul" (86).
MEGALÔMANO
Hopper nunca foi uma figura fácil. Enlouqueceu durante as filmagens de "Sem
Destino" e, como um relâmpago, passou de louco a gênio após o sucesso do filme.
Virou um megalômano
egoico e insuportável, brigou
de porrada com suas mulheres e foi ridicularizado por
aqueles que o haviam idolatrado. Tudo muito rápido,
quase meteórico.
Hopper se confundia propositalmente com os personagens que interpretava.
Não tinha medo de colocar
sua personalidade na frente
do trabalho de ator e, com isso, construiu uma galeria de
personagens inesquecíveis,
com sua marca indiscutível e
facilmente reconhecível.
Em "O Selvagem da Motocicleta", ele diz que seu filho
nasceu do lado errado do rio.
Me parece a definição exata
para Hopper. O cara que aparentemente fazia tudo errado
e do jeito mais torto possível.
Mas, quando interpretava,
fazíamos questão de prestar
atenção até para tentar identificar onde começava e terminava o trabalho de ator.
E era sempre muito difícil
conseguir identificar, porque
ele sempre fez questão de
confundir, mesmo atuando
nas piores bombas.
Como esquecer, em "Waterworld" (95), o vilão Deacon líder dos Smokers por
exemplo? Sua risada característica, seu olhar alucinado,
tudo estava lá, de novo a serviço de sua aparentemente
desgovernada atuação.
ATOR PROBLEMA
Hopper sabia onde queria
chegar, só que sempre pegava a estrada mais acidentada. Parece que ele tinha que
fazer jus à fama de "ator problema". Levava a sério a fama de mau.
E se era isso que Hollywood estava precisando, já
sabia para que lado olhar,
desde o dia que subiu naquela Harley em direção a Nova
Orleans, em "Sem Destino".
Quando aquele caipira o
derrubou de sua moto com
um tiro fatal, a história não
estava acabando. Para Dennis Hopper e toda um legião
de sujeitos inquietos e propositalmente desgovernados e
inclassificáveis, a história estava só começando.
(MÁRIO BORTOLOTTO)
MÁRIO BORTOLOTTO é ator, diretor e dramaturgo.
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