São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011

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CRÍTICA

"Cabaret Luxúria" adiciona invenção a um gênero marcado pela redundância

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Um teatro musical alternativo. "Cabaret Luxúria" é um fruto inesperado da florada de grandes musicais que têm ocorrido no Brasil.
Não se enquadrando nem entre os espetáculos importados, nem entre as produções nacionais mais ambiciosas, propõe uma pitada de risco e experimentação em um gênero marcado pela redundância.
O teatro de cabaré tem uma história que se confunde com as radicalizações artísticas do fim do século 19. O espaço esfumaçado das casas noturnas nas capitais europeias serviu como laboratório para os artistas que revolucionariam as práticas teatrais na primeira metade do século 20.
No caso do espetáculo dirigido por Bruno Perillo e Helen Helene, a partir de texto de Rachel Ripani, a carga inventiva dialoga com a tradição brasileira da revista e seu modelo de trama aberta, recheada de atrações cômicas e canções variadas, mas guardando um fio narrativo.
Ripani revela-se dramaturga inspirada ao costurar, com fiapos de personagens, um arco dramático divertido em torno de temas difíceis de tão batidos.
A luxúria do título remete principalmente às paixões eróticas, criando um pano de fundo que poderia facilmente descambar para a vulgaridade ou apelação. Não é o que acontece, prevalecendo sempre uma mirada que, sem deixar de ser picante, é poética.
Colabora para isso uma série de fatores, a começar pelo desempenho do elenco. A autora Raquel Ripani brilha como atriz e cantora na pele da ingênua Justine, que chega ao inferno para sentir os calores e as delícias de um ambiente de pecadores.
Bruno Perillo, como Mefisto, e Paula Flaiban (substituindo Rosi Campos), como Lilith, também cantam e atuam com competência, esbanjando carisma nas provocações ao público. A direção musical de Pedro Paulo Bogossian e o quinteto acústico Tango e Perfume, com piano, trombone, violino, bateria e contrabaixo, garantem a boa execução das 17 canções apresentadas.
Entre elas, melodias clássicas de compositores como Kurt Weill, Hans Eisler, Cole Porter, Tom Waits e irmãos Gershwin, com versões em português adaptadas ao contexto ficcional, a maioria pelo diretor Bruno Perillo.
Os figurinos de Theodoro Cochrane, eficazes e elegantes, e a iluminação precisa de Guilherme Bonfanti completam o quadro virtuoso em favor do êxito da encenação, que se encaixa bem no pequeno palco de que dispõe.
"Cabaret Luxúria" revisita um formato que já ofereceu no Brasil espetáculos experimentais marcantes, como "El Grande de Coca-Cola", nos anos 1970, e "Mahagony Songspiel", do Ornitorrinco, no início dos anos 1980, e o faz sem recorrer aos esgotados clichês à la Brecht.
Ao resgatar artistas que vem trabalhando em produções milionárias na tradição da Broadway, comprova que mesmo tradições arraigadas têm uma margem de invenção possível.

CABARET LUXÚRIA

QUANDO ter. a qui., às 19h30; até 2/6
ONDE CCBB (r. Álvares Penteado, 112; tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO R$ 6
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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