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RODA DE BAMBA
Cantor e compositor da Vila Isabel reúne em disco fregueses que batucam em seu próprio bar, no Rio
Martinho põe grife a serviço do pagode
XICO SÁ
da Reportagem Local
Zé Inácio tem apenas 12 anos,
não bebe como os seus colegas de
pandeiro, mas já é considerado um
dos bambas entre os sambistas que
frequentam o "Butiquim do Martinho", bar carioca do cantor e
compositor Martinho da Vila.
Filho de Zé Catimba, compositor
da Vila Isabel, o garoto é uma das
atrações de um disco com novos
sambistas que bebem a cerveja gelada e absorvem o molejo do autor
de "Tá Delícia, Tá Gostoso".
Martinho organizou o melhor
som tirado da sua freguesia e manteve, na gravação, o burburinho,
com gosto de cachaça e torresmo,
do seu boteco dedicado ao samba.
Com o moral de quem vendeu
cerca de 1,5 milhão de CDs do seu
último trabalho, Martinho da Vila
aposta no disco de seus fregueses
como prova de renovação do estoque de autênticos bambas do Rio.
"É só felicidade", disse o cantor
à Folha, depois de um show dos
seus "apadrinhados", na noite de
terça-feira, na casa Tom Brasil, em
São Paulo. "Essa moçada pendura
a conta no bar, mas é um sucesso
quando entra no pagode."
Com a manha e o dengo habituais, Martinho da Vila apresentou
seus convidados em um cenário
que reproduziu o seu botequim.
Outro garoto que faz o diabo
com o cavaquinho é Fabiano, 17,
devoto dos clássicos de Noel Rosa
e apontado como um dos melhores sambistas do banco de talentos
da Unidos de Vila Isabel.
O samba-teen revela ainda o cantor e compositor Tiago Mocotó,
19, irmão de Gabriel Pensador
-"com mais talento", costumam
brincar os sambistas do "Butiquim do Martinho".
O rapaz é uma fábrica de sambas.
Diz ser autor de mais de cem composições. Quando larga o pandeiro, Mocotó revela queda pelo rap.
Essa dupla militância, aliás, tem
crescido muito tanto no Rio como
em São Paulo. Bandas dos dois gêneros costumam se apresentar
juntas, e alguns grupos, como o
paulistano Potencial 3, trabalham
a fusão samba/rap.
Cultuado, na companhia de Zé
Pagodinho, como representante
da face mais original do pagode,
Martinho da Vila não quer parar
nesse disco de ilustres fregueses.
A sua intenção é firmar o seu boteco como novo oráculo do samba
do Rio. E, quem sabe, até abrir
uma linha de franchising do bar
em outras cidades.
"Vamos devagar, devagarinho",
desconversa ele, mantendo sigilo
sobre os novos planos.
Disco: Butiquim do Martinho
Artistas: vários
Gravadora: Sony Music
Lançamento: junho
Quanto: R$ 18, em média
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