São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997.



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RODA DE BAMBA
Cantor e compositor da Vila Isabel reúne em disco fregueses que batucam em seu próprio bar, no Rio
Martinho põe grife a serviço do pagode

XICO SÁ
da Reportagem Local

Zé Inácio tem apenas 12 anos, não bebe como os seus colegas de pandeiro, mas já é considerado um dos bambas entre os sambistas que frequentam o "Butiquim do Martinho", bar carioca do cantor e compositor Martinho da Vila.
Filho de Zé Catimba, compositor da Vila Isabel, o garoto é uma das atrações de um disco com novos sambistas que bebem a cerveja gelada e absorvem o molejo do autor de "Tá Delícia, Tá Gostoso".
Martinho organizou o melhor som tirado da sua freguesia e manteve, na gravação, o burburinho, com gosto de cachaça e torresmo, do seu boteco dedicado ao samba.
Com o moral de quem vendeu cerca de 1,5 milhão de CDs do seu último trabalho, Martinho da Vila aposta no disco de seus fregueses como prova de renovação do estoque de autênticos bambas do Rio.
"É só felicidade", disse o cantor à Folha, depois de um show dos seus "apadrinhados", na noite de terça-feira, na casa Tom Brasil, em São Paulo. "Essa moçada pendura a conta no bar, mas é um sucesso quando entra no pagode."
Com a manha e o dengo habituais, Martinho da Vila apresentou seus convidados em um cenário que reproduziu o seu botequim.
Outro garoto que faz o diabo com o cavaquinho é Fabiano, 17, devoto dos clássicos de Noel Rosa e apontado como um dos melhores sambistas do banco de talentos da Unidos de Vila Isabel.
O samba-teen revela ainda o cantor e compositor Tiago Mocotó, 19, irmão de Gabriel Pensador -"com mais talento", costumam brincar os sambistas do "Butiquim do Martinho".
O rapaz é uma fábrica de sambas. Diz ser autor de mais de cem composições. Quando larga o pandeiro, Mocotó revela queda pelo rap.
Essa dupla militância, aliás, tem crescido muito tanto no Rio como em São Paulo. Bandas dos dois gêneros costumam se apresentar juntas, e alguns grupos, como o paulistano Potencial 3, trabalham a fusão samba/rap.
Cultuado, na companhia de Zé Pagodinho, como representante da face mais original do pagode, Martinho da Vila não quer parar nesse disco de ilustres fregueses.
A sua intenção é firmar o seu boteco como novo oráculo do samba do Rio. E, quem sabe, até abrir uma linha de franchising do bar em outras cidades.
"Vamos devagar, devagarinho", desconversa ele, mantendo sigilo sobre os novos planos.


Disco: Butiquim do Martinho Artistas: vários Gravadora: Sony Music Lançamento: junho Quanto: R$ 18, em média



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