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World music caça talentos
regionais em Pernambuco
VANDECK SANTIAGO
da Agência Folha, em Recife
Artistas e grupos regionais
pernambucanos, de maracatu,
forró e outros ritmos estão na
mira da world music -mais
precisamente da gravadora inglesa Melt 2.000, especializada
no gênero.
Ex-parceiro de Miles Davis,
com 40 discos gravados e detentor de um prêmio Grammy,
o percussionista brasileiro Airto Moreira, 56, esteve de sábado até ontem em Recife à caça
de talentos regionais para a
Melt 2.000.
Uma apresentação especial
de nove artistas e grupos pernambucanos foi organizada
para ele, anteontem à noite, no
Teatro Apolo, em Recife.
Moreira -que viajou ontem
para Londres- levou também
fitas demo de outros grupos.
A pré-seleção dos que se
apresentaram anteontem foi
feita pelo produtor musical
pernambucano Giovanni Papaléo, amigo de Moreira.
A noitada de "caça-talentos"
teve forró, maracatu, frevo, ciranda, coco, banda de pífanos,
cantos indígenas e utilização de
"instrumentos não-convencionais" (como um serrote) e
até outros inventados em Pernambuco (como a cabala, de
cordas).
Tudo "autêntico, original e
desconhecido do mercado fonográfico", que é o que interessa à world music, segundo afirmou Moreira.
"O que eu vi aqui parece coisa do outro mundo. É uma coisa fantástica. É um tesouro o
que existe aqui", entusiasmou-se Moreira.
Ao assistir apresentações do
maracatu Nação Erê (formado
só por crianças) e da Banda de
Pífanos Cultural de Caruaru,
Moreira disse que se conteve
"para não chorar".
Ele garantiu que "com certeza surgirão contratos de gravação" para alguns dos artistas e
grupos que viu, mas não precisou a data. "Agora vamos
aguardar e entregar a Deus",
disse o líder da Banda de Pífanos, Biu do Pife, que mora em
Caruaru e é funcionário público estadual.
Airto Moreira é líder da banda Fourth World e há 29 anos
mora no exterior. Contou que
há cerca de três anos está
atuando também como uma
espécie de olheiro para a Melt
2.000, do inglês Robert Trunz,
de quem ele é amigo.
A gravadora, até agora, tem
caçado talentos apenas na África (Marrocos, Zaire e África do
Sul). A vez, agora, afirma Moreira, é de Pernambuco -único Estado do Brasil que ele visitou como olheiro.
"O que se faz em outros Estados, como a Bahia, já foi muito
explorado, comercializou-se",
disse ele.
Moreira não disse quais os
grupos ou artistas que poderão
"ter um contrato" com o Melt
2.000. Mas, pelo menos em
uma das apresentações da noite, ele fez questão de aplaudir
de pé: a do músico Antúlio Madureira e sua orquestra.
Antúlio Madureira, na melhor apresentação da noite, só
não fez chover: tocou as "Bachianas Brasileiras" número 5,
clássico de Heitor Villa-Lobos,
em um serrote velho, com uma
vareta.
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