São Paulo, Segunda-feira, 31 de Maio de 1999
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VÍDEO - LANÇAMENTOS

Sem dar sinal de vida nas salas de cinema, chegam direto às locadoras dois filmes: um que causou furor no Reino Unido e outro que reúne grandes atrizes


"TERRAS PERDIDAS"

Dispersão esvazia drama sobre incesto

JOÃO LEIVA FILHO
Editor-adjunto de Especiais

"Terras Perdidas" mostra a desagregação de uma bem-sucedida família de fazendeiros americanos.
Depois de três gerações na propriedade, o pai (Jason Robards), viúvo, velho e preocupado com os impostos, resolve transferir a terra para as filhas -Ginny (Jessica Lange), Rose (Michelle Pfeiffer) e Caroline (Jennifer Jason Leigh).
A dúvida da caçula (Caroline) sobre a conveniência da operação revolta o pai, que a exclui do processo. Advogada, é a única que não vive na fazenda e que não se casou.
A vida das outras patina. Ginny não consegue ter filhos. Rose tem duas meninas e câncer. A doença levou um de seus seios, fato que seu marido não aceita. Jess, filho de outro fazendeiro, retorna à terra e desperta a atenção das duas.
Aberto esse excessivo leque de opções,o filme não consegue fechá-lo. Passa de um tema a outro sem dar consistência a nenhum, mudando o tempo todo de rumo.
Assim, descobrimos que o pai bebe e obriga as filhas a socorrê-lo. Essa deixa, bem fraca, revolta as duas. Mas aí somos informados de que elas eram abusadas sexualmente na adolescência, daí a ira. Quem acha que depois dessa já sabe de toda a história se engana. Ainda vem muita confusão.
Ginny conduz a narrativa. Sua voz em "off", redundante, abre e fecha o filme. Ela é a base para as transições de cena. E é ela que o impacto dos acontecimentos deve transformar. Mas nem isso ajuda.
A dispersão torna inconsistentes os personagens (como o pai, Caroline e o marido de Ginny) e as situações (temas polêmicos e ousados como o incesto viram farinha).
Com isso, Jessica não consegue amadurecer sua personagem. Não por falha sua, mas por contracenar com tipos sem densidade. Michelle, mais focada e sem a missão condutora, se destaca. Mesmo com uma personagem mais plana, que segue inalterada do começo ao fim. A atriz protagoniza os poucos bons momentos do filme. Na cena em que ela e Ginny bebem à noite, está quase perfeita. Seu corpo e rosto gesticulam com expressão, conseguindo união total com o diálogo.
Como a diretora Jocelyn Moorhouse foi afastada da edição final, fica difícil atribuir a ela todos os problemas. Mas parece claro que sua tragédia não escaparia da total ausência de foco. Se o filme deixasse as irmãs se entenderem com o pai, sem intermediários, a história poderia ter sido diferente.


Avaliação:



Título original: A Thousand Acres Diretor: Jocelyn Moorhouse Produção: EUA, 1997, 106 min Com: Jessica Lange e Michelle Pfeiffer

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