WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Bauru

PAULO MOTA
da Agência Folha

O telefone 234-5678 está causando uma grande dor de cabeça para os seis funcionários da farmácia Droga Rio, localizada no centro de Bauru (345 km a noroeste de São Paulo).
Desde que o cantor de rap Gabriel, o Pensador começou a "divulgar" o número do telefone, por meio de sua música, os trotes para a farmácia não param mais.
"Qual é o telefone daí?", perguntam autores dos trotes para alguns dos funcionários. Após a resposta "234-5678", completam: "Então, está na hora de molhar o biscoito". Esse é o refrão da música cantada por Gabriel.
Segundo o gerente da farmácia, Daniel Souza, cerca de 200 trotes são passados por dia. A maioria deles são feitos por pessoas que moram na região de Bauru.
As ligações, conta a farmacêutica Luciana D'Avila, são feitas por pessoas de todas as idades. "Ligou uma senhora dizendo ser fã do Gabriel e insistiu para deixar que falássemos com ele. Dissemos que o telefone não era da casa do cantor, mas ela não se convenceu", disse.
Tanto aborrecimento fez com que um dos proprietários da Droga Rio, Carlos Roberto Marques, consultasse seu advogado para saber se pode processar a gravadora de Gabriel, o Pensador.
"As pessoas não têm consciência que o telefone da farmácia é de utilidade pública para atender, muitas vezes, casos de emergência. É uma falta de respeito", afirmou.
Inferno
A comerciante Litânia Mendes, 30, moradora do bairro do Papicu, em Fortaleza (CE), disse que sua vida "virou um inferno" desde que a música "234-5678" ganhou as paradas de sucesso.
"Meu telefone não pára de tocar o dia inteiro. Ficam perguntando se eu já afoguei o ganso, se já molhei o biscoito. Perguntam também se a Zulmira ou a dona Guta estão. É um horror", diz Mendes.
A comerciante disse que os trotes ganharam contornos trágicos na semana passada, quando seu filho, Solon Neto, de quatro meses, adoeceu.
"Tentei ligar do trabalho para minha casa, para saber como meu filho estava, mas não consegui. O telefone estava sempre ocupado."
Mendes disse que o número de seu telefone foi escolhido por ela e pelo seu marido por causa da facilidade que se tem para decorá-lo. "Agora vamos ter que mudar."
A comerciante afirmou que já está procurando um advogado para entrar com uma ação contra a gravadora de Gabriel.
"Quero que eles paguem pelos transtornos que minha família está passando."



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