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"Achei que seria impossível", afirma pianista
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Ih, hoje eu não estou muito
inspirado!" Já se tornou um clichê
de Nelson Freire começar entrevistas por telefone com essa frase.
Mineiramente alheio a tudo o que
é porosidade e comunicação, o
pianista bem que se esforça para
ajudar o repórter, mas não consegue esconder a timidez no contato
com a imprensa.
Que dizer, então, de abrir a intimidade para as câmeras e virar tema de documentário? "É, eu achei
que ia ser impossível", conta, sem
poupar elogios ao diretor João
Moreira Salles, que chama de pessoa "adorável". "Ele conseguiu
me captar do jeito que eu sou."
A idéia do filme partiu do cineasta. "Eles me filmaram em vários lugares, aqui no Brasil, na
Rússia, na França....", diz Freire.
"Fui filmado com a Martha [Argerich, pianista argentina, sua
mais regular parceira musical e
amiga íntima" na casa dela, estudando, conversando... Tem coisas
da minha infância também, e um
capítulo dedicado a Guiomar
[Novaes, pianista paulista, uma
das principais influências do artista". Está muito bonito."
O documentário chega às telas
no momento de um "segundo estouro" na carreira internacional
do artista. "Isso acontece assim,
de repente", afirma. "Você sempre esteve lá, mas, de repente, te
descobrem."
Chopin
Já a carreira fonográfica ganhou
novo impulso a partir de 99,
quando a Philips decidiu que ele
seria o único brasileiro a integrar
"Great Pianists of the 20th Century", megacoleção que pretendia
ser a síntese dos maiores artistas
do teclado do século 20.
A surpresa foi ser contratado
pela Decca em uma época de crise
da indústria fonográfica. "Também fiquei de queixo caído", conta. "Justamente nesse momento,
em que está todo mundo cortando... Acho que tive muita sorte."
Inteiramente dedicado a Chopin, o novo disco, gravado em janeiro, traz os "Estudos op. 25",
que o pianista jamais havia tocado na íntegra, e a "Sonata op. 58",
da qual ele já havia feito uma gravação, nos anos 60, para a CBS.
Diante da cálida acolhida da crítica internacional, Freire planeja
um segundo disco para o final do
ano, embora prefira não adiantar
seu repertório.
O pianista dá recital fechado na
Sala São Paulo, em 23 de agosto,
para comemorar os 30 anos do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice. Em 2 e 4 de setembro, com venda de ingressos, toca
o "Concerto nš 4", de Beethoven,
no mesmo local, acompanhado
pela Sinfônica de Heidelberg, sob
a batuta de Thomas Fey.
NELSON FREIRE - CHOPIN. Artista:
Nelson Freire. Lançamento: Decca/
Universal. Quanto: R$ 27, em média.
ORQUESTRA SINFÔNICA DE
HEIDELBERG E NELSON FREIRE. Onde:
Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš),
dias 2 e 4 de setembro. Quanto: de R$ 80
a R$ 240. Onde comprar: Mozarteum (tel.
0/xx/11/3815-6377).
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