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LITERATURA
Fotos, textos e pinturas homenageiam "doce radical" a partir de hoje
Mostra no Rio relembra Callado
CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO
Para o psicanalista Hélio Pellegrino, um de seus amigos mais
próximos, Antonio Callado era o
"doce radical" -o homem que
era veemente na defesa de seus
pontos de vista sem abrir mão da
polidez, mesmo com opositores.
O apelido cunhado por Pellegrino dá nome e espírito à exposição
"Antonio Callado: o Doce Radical", que será aberta hoje às 17h na
ABL (Academia Brasileira de Letras), no Rio, e procura mostrar as
múltiplas faces do escritor.
"Em seus textos, Callado tinha
uma ironia sutil, mas também arrancava gargalhadas absolutas.
Sempre se disse ateu, mas sua
obra está impregnada por um
sentido de religiosidade. É rotulado como doutrinário, mas nunca
foi panfletário", diz a curadora
Clarisse Fukelman sobre o escritor, morto em 1997, aos 80 anos.
Na abertura acontece a "Expedição Callado", leitura de trechos
de sua obra por sua filha, Tessy, e
pelo ator Milton Gonçalves, com
direção de Ricardo Kosovski.
A trajetória do escritor está dividida em 12 temas -entre eles, sua
paixão pelo teatro, seu interesse
pelos índios, sua carreira como
jornalista e sua preocupação com
as guerras. Para cada tema, além
de fotos e trechos de seus livros,
foi montado um painel com frases
retiradas de textos do escritor.
Um deles, por exemplo, retrata
a polidez que lhe rendeu o apelido
de "caboclo inglês", dado por outro amigo, o compositor Tom Jobim: "Não há motivo nenhum para que mesmo as tragédias não sejam vividas com bons modos".
Ao lado de textos e fotos, há cartas e documentos doados pela família ao acervo da Fundação Casa
de Ruy Barbosa. Em uma das cartas, Guimarães Rosa escreve ao
autor suas impressões ao ler
"Quarup". Diz que o romance
"saiu grande na pintura e no desenho, nas minúcias e no todo, em
fundo e na superfície. Colosso".
Há ainda objetos, como uma
calçadeira e uma cigarreira feitas
com restos de fuselagem de aviões
dos EUA derrubados na Guerra
do Vietnã, sobre a qual Callado
fez uma série de reportagens.
Retratos do autor, feitos por
Portinari e João Callado, também
estão na exposição, bem como
um quadro de Aldemir Martins
inspirado por "Quarup" e uma tela de autoria de Djanira em homenagem ao grupo conhecido como
"os oito do Glória".
Em novembro de 1965, Callado
e um grupo de amigos foram presos após vaiar o marechal Castello
Branco, então presidente, que
chegava para uma solenidade no
hotel Glória, no Rio. "Djanira pintou o quadro em homenagem ao
grupo e o levou ao lugar onde estavam presos. Quando foram soltos, fizeram uma dedicatória para
Callado, chamado de "nosso grande chefe'", conta Ana Arruda Callado, viúva do escritor.
Mostra: Antonio Callado: o Doce Radical
Quando: de seg. a sex., das 13h às 18h,
até 29/9; hoje, às 17h, Expedição Callado,
leitura dramatizada de textos do autor
Onde: galeria Manuel Bandeira da ABL
(av. Presidente Wilson, 203, Rio, tel. 0/
xx/21/524-8230)
Quanto: entrada franca
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