São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA
Fotos, textos e pinturas homenageiam "doce radical" a partir de hoje
Mostra no Rio relembra Callado

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Para o psicanalista Hélio Pellegrino, um de seus amigos mais próximos, Antonio Callado era o "doce radical" -o homem que era veemente na defesa de seus pontos de vista sem abrir mão da polidez, mesmo com opositores.
O apelido cunhado por Pellegrino dá nome e espírito à exposição "Antonio Callado: o Doce Radical", que será aberta hoje às 17h na ABL (Academia Brasileira de Letras), no Rio, e procura mostrar as múltiplas faces do escritor.
"Em seus textos, Callado tinha uma ironia sutil, mas também arrancava gargalhadas absolutas. Sempre se disse ateu, mas sua obra está impregnada por um sentido de religiosidade. É rotulado como doutrinário, mas nunca foi panfletário", diz a curadora Clarisse Fukelman sobre o escritor, morto em 1997, aos 80 anos.
Na abertura acontece a "Expedição Callado", leitura de trechos de sua obra por sua filha, Tessy, e pelo ator Milton Gonçalves, com direção de Ricardo Kosovski.
A trajetória do escritor está dividida em 12 temas -entre eles, sua paixão pelo teatro, seu interesse pelos índios, sua carreira como jornalista e sua preocupação com as guerras. Para cada tema, além de fotos e trechos de seus livros, foi montado um painel com frases retiradas de textos do escritor.
Um deles, por exemplo, retrata a polidez que lhe rendeu o apelido de "caboclo inglês", dado por outro amigo, o compositor Tom Jobim: "Não há motivo nenhum para que mesmo as tragédias não sejam vividas com bons modos".
Ao lado de textos e fotos, há cartas e documentos doados pela família ao acervo da Fundação Casa de Ruy Barbosa. Em uma das cartas, Guimarães Rosa escreve ao autor suas impressões ao ler "Quarup". Diz que o romance "saiu grande na pintura e no desenho, nas minúcias e no todo, em fundo e na superfície. Colosso".
Há ainda objetos, como uma calçadeira e uma cigarreira feitas com restos de fuselagem de aviões dos EUA derrubados na Guerra do Vietnã, sobre a qual Callado fez uma série de reportagens.
Retratos do autor, feitos por Portinari e João Callado, também estão na exposição, bem como um quadro de Aldemir Martins inspirado por "Quarup" e uma tela de autoria de Djanira em homenagem ao grupo conhecido como "os oito do Glória".
Em novembro de 1965, Callado e um grupo de amigos foram presos após vaiar o marechal Castello Branco, então presidente, que chegava para uma solenidade no hotel Glória, no Rio. "Djanira pintou o quadro em homenagem ao grupo e o levou ao lugar onde estavam presos. Quando foram soltos, fizeram uma dedicatória para Callado, chamado de "nosso grande chefe'", conta Ana Arruda Callado, viúva do escritor.


Mostra: Antonio Callado: o Doce Radical Quando: de seg. a sex., das 13h às 18h, até 29/9; hoje, às 17h, Expedição Callado, leitura dramatizada de textos do autor Onde: galeria Manuel Bandeira da ABL (av. Presidente Wilson, 203, Rio, tel. 0/ xx/21/524-8230) Quanto: entrada franca

Texto Anterior: Filmes reforçam escolha da cidade
Próximo Texto: Teatro: Peça de Shakespeare tem leitura na Folha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.