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FESTIVAL DE VENEZA
Diretor de "Kids" compete com "Bully", segundo ele, um "retrato realista" da juventude americana
"Nossos valores se esvaziaram", diz Clark
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
Com a estréia de "Bully" na
competição do Festival de Veneza, o cineasta norte-americano
Larry Clark deu, ontem, sequência à anunciada divisa desta 48ª
Mostra Internacional de Arte Cinematográfica, aberta na quarta à
noite: "O cinema perturba".
Se é capaz de perturbar a política e os ditadores -como defendeu a organização do festival na
solenidade de abertura-, pode
ambicionar também sacudir conceitos e práticas da sociedade
americana e sua economia liberal,
alvos de Clark.
O diretor de "Kids" enfoca novamente a juventude de seu país,
desta vez, com o retrato de um
grupo de jovens brancos e endinheirados do sul da Califórnia. Os
amigos decidem assassinar o
"bully" [valentão" da turma como
se isso fosse um ato banal (ou
uma partida de videogame) e
concretizam o plano num ritual
de brutalidade extremada.
O roteiro é baseado em livro de
Jim Schutze, por sua vez um relato de episódio verídico. "Somos
um país tão rico que nosso sistema de valores parece ter se esvaziado. O modo como vivem esses
jovens é um fenômeno cultural.
Estou tentando explorar o que está acontecendo, sem pretender
assinalar uma grande verdade,
mas tentando não ser superficial",
disse Clark.
O "fenômeno" dos garotos de
"Bully" é resumido em rotineiro
consumo de drogas e transas casuais. O cineasta buscou ser "realista" ao retratar esse universo e
fez um filme em que predominam
sexo, drogas e rap.
Eminem, o polêmico rapper
branco americano, aparece apenas num pôster na casa de um dos
personagens. Comparecem na
trilha, entre muitos outros,
Tricky, Dr. Dre, Fat Boy Slim.
"Eu poderia ter usado atores étnicos ou mostrado, por exemplo,
o pai de Bobby (o rapaz assassinado) como um homem de origem
iraniana, que incentivava o filho a
ser um vencedor na América. Mas
optei por não fazer isso, porque o
que me interessava era contar a
história daquele grupo de jovens", disse Clark.
Bijou Philips, atriz do longa-metragem, disse que "o chocante
em "Bully" não são as cenas de nudez e sexo, mas o fato de os garotos planejarem matar alguém e de
isso ter a ver com a realidade atual
da América".
Na competição Venezia 58 (a
principal) foram exibidos ontem
também o coreano "Address
Unknown" e o mexicano "Y Tu
Mamá También". Hoje estréiam o
português "Quem És Tu", de João
Botelho, e o indiano "Monsoon
Wedding", de Mira Nair.
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