São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2001

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FESTIVAL DE VENEZA

Diretor de "Kids" compete com "Bully", segundo ele, um "retrato realista" da juventude americana

"Nossos valores se esvaziaram", diz Clark

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Com a estréia de "Bully" na competição do Festival de Veneza, o cineasta norte-americano Larry Clark deu, ontem, sequência à anunciada divisa desta 48ª Mostra Internacional de Arte Cinematográfica, aberta na quarta à noite: "O cinema perturba".
Se é capaz de perturbar a política e os ditadores -como defendeu a organização do festival na solenidade de abertura-, pode ambicionar também sacudir conceitos e práticas da sociedade americana e sua economia liberal, alvos de Clark.
O diretor de "Kids" enfoca novamente a juventude de seu país, desta vez, com o retrato de um grupo de jovens brancos e endinheirados do sul da Califórnia. Os amigos decidem assassinar o "bully" [valentão" da turma como se isso fosse um ato banal (ou uma partida de videogame) e concretizam o plano num ritual de brutalidade extremada.
O roteiro é baseado em livro de Jim Schutze, por sua vez um relato de episódio verídico. "Somos um país tão rico que nosso sistema de valores parece ter se esvaziado. O modo como vivem esses jovens é um fenômeno cultural. Estou tentando explorar o que está acontecendo, sem pretender assinalar uma grande verdade, mas tentando não ser superficial", disse Clark.
O "fenômeno" dos garotos de "Bully" é resumido em rotineiro consumo de drogas e transas casuais. O cineasta buscou ser "realista" ao retratar esse universo e fez um filme em que predominam sexo, drogas e rap.
Eminem, o polêmico rapper branco americano, aparece apenas num pôster na casa de um dos personagens. Comparecem na trilha, entre muitos outros, Tricky, Dr. Dre, Fat Boy Slim.
"Eu poderia ter usado atores étnicos ou mostrado, por exemplo, o pai de Bobby (o rapaz assassinado) como um homem de origem iraniana, que incentivava o filho a ser um vencedor na América. Mas optei por não fazer isso, porque o que me interessava era contar a história daquele grupo de jovens", disse Clark.
Bijou Philips, atriz do longa-metragem, disse que "o chocante em "Bully" não são as cenas de nudez e sexo, mas o fato de os garotos planejarem matar alguém e de isso ter a ver com a realidade atual da América".
Na competição Venezia 58 (a principal) foram exibidos ontem também o coreano "Address Unknown" e o mexicano "Y Tu Mamá También". Hoje estréiam o português "Quem És Tu", de João Botelho, e o indiano "Monsoon Wedding", de Mira Nair.



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