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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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O retorno do DRAGÃO


Após gravidez e treinos de kung fu, Uma Thurman interpreta uma assassina em "Kill Bill", novo filme de Quentin Tarantino


ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O primeiro nome, Uma, é homenagem a uma deusa hindu. Karuna, o nome do meio, saiu da terminologia do hinduísmo, do budismo e da prática zen. O sobrenome tem história não muito diferente -quem começou a fama do clã Thurman foi seu pai, Robert, o primeiro ocidental a ser ordenado monge budista.
E agora ela resolveu se meter a brincar de Bruce Lee.
Uma Thurman, que já foi a doce Cecile de Volanges de "Ligações Perigosas" (1988) e a enlouquecida Mia Wallace de "Pulp Fiction" (1994), quer mostrar que sabe lutar kung fu e matar por vingança. Ao menos é isso o que ela faz em "Kill Bill", o primeiro filme escrito e dirigido por Quentin Tarantino em seis anos.
Thurman tem o papel principal, uma assassina profissional que tenta se aposentar e casar. Só que seus antigos companheiros não gostam muito da idéia e resolvem matar não só ela, como todos os convidados do casamento. Mas o alvo principal sobrevive. Eis o pouco que se sabe sobre o filme, que só agora começa a ser mostrado aos críticos.
"Você via os filmes de Bruce Lee?", perguntou a Folha à atriz na manhã da última terça-feira.
"Não tanto assim", respondeu. "Mas eu o admirava, e ele [Tarantino] me mostrou muito Bruce Lee antes de fazermos esse filme", disse.
Thurman concorda, porém, que o choque será grande para quem a viu em outras fases de sua carreira. "É diferente. Estou durona, muito durona", diz a atriz, mãe de dois filhos -a segunda gravidez fez atrasar as gravações, já que Tarantino quis esperá-la.
Ela emendou ao parto um duro regime. Três meses após sair da maternidade, começou a melhorar o kung fu. "Treinei três meses, das 9h às 17h, todos os dias."
A roupa amarela que sua personagem usa foi desenhada a partir das vestimentas de Lee. "Esse visual era uma obsessão de Quentin", afirma Thurman. Outra inspiração foi John Woo. "Foi a razão pela qual tive que ter meu cabelo grande. Ele [Tarantino] adora os cabelos voando nos filmes de John Woo", explica ela.
O filme começou a brotar numa conversa de Thurman e Tarantino durante a filmagem de "Pulp Fiction", o grande sucesso da carreira dos dois.
"Com "Pulp Fiction", eu me lembro que, quando o li o roteiro, fiquei chocada, me assustou. Não sabia fazer filmes que têm violência. Estava tão chocada que pensei que não poderia fazê-lo. Aí eu o encontrei e acreditei nele", diz ela, explicando como começou a trabalhar com Tarantino. Da última vez, o susto se repetiu: "Vai ficando mais duro, mais duro, mais duro. O que ele está pensando? Eu não posso fazer isso!".
Mas fez, e a primeira parte -Tarantino e a Miramax decidiram dividir a história em dois filmes- deverá chegar aos cinemas americanos em outubro (ainda sem previsão no Brasil).
Thurman, claro, é só elogios para Tarantino. "Ele não é um observador distante. Muitos diretores são assim. Ele vive dentro do filme, é espontâneo", diz ela.
Tanta proximidade faz com que tenha que responder perguntas sobre como poderia ser o relacionamento entre os dois se ela não fosse casada -uma discussão que Thurman corta já de cara. A atriz vive há cinco anos com o ator Ethan Hawke, com quem teve seus dois filhos, levados para a Ásia durante as gravações.
Mas há outra discussão que a agrada muito. Aos 33 anos, diverte-se erguendo a mão esquerda para indicar a importância da beleza no início da carreira de uma atriz. A mão direita, que representa o talento, está lá embaixo. Para mostrar o efeito do tempo, abaixa a mão esquerda e ergue a direita aos poucos. "As grandes atrizes são as grandes atrizes. Podem não ser mais as mulheres que capturam o coração, [mas] elas são outro tipo de mulher."

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