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NINA HORTA
Uma brasileira-japonesa
É de uma modéstia oriental, de um sorriso de carioca sambista, e honra o dito de que o sertanejo é um forte
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MARI HIRATA nunca me enganou. Desde o dia em que
apareceu para dar aula no
primeiro Boa Mesa, pus o olho nela e
percebi que a nossa brasileira-japonesa era quem dava aulas com mais
paixão, sabedoria e vocação.
É de uma modéstia oriental, de
um sorriso de carioca sambista, e
honra o dito de que o sertanejo é antes de tudo um forte. Não, de sertaneja não tem nada, seu eixo é Paris,
Tóquio, São Paulo, mas a cozinha
precisa de gente que se agüente em
pé por 12 horas com a cara melhor
do mundo, que capriche até o fim,
que não use atalhos. E Mari é isso tudo e, ainda por cima, perfeccionista.
Fui a um jantar de muitas mãos,
mas quem sustentava o edifício era
Dona Hirata. Todos estavam lá metendo o bico para fazer jus às novidades dela. E são sempre novidades.
(Mari Hirata nos deve um livro, pois,
como se não bastasse, escreve bem.
Atualmente é colunista mensal da
"Revista da Folha".)
A entrada eram vieiras (já temos
vieiras pequenas, mas boas, aqui)
nas suas próprias conchas. Então,
era uma concha, com três vieiras
pequenas dentro, uma crua e duas
cozidas, com dois molhos diferentes. Lá vai um deles: 1 copo de suco
de laranja fresco; 30 g de manteiga
com sal; casca de 1/2 laranja. Cortar a casca da laranja em tiras bem
fininhas (evitando colocar a parte
branca da casca). Aferventar por 10
minutos em uma panela com 1/2 litro de água, deixar escorrer e reservar.
Reduzir em outra panela o suco
da laranja até quase virar uma calda (2 colheres de sopa), colocar a
manteiga cortada em pedacinhos e
misturar, aos poucos, sem parar de
mexer. Por último, colocar as tirinhas de casca de laranja. Colocar as
vieiras ainda dentro da concha
aberta, sem tampa, no grill, até esquentarem, mas sem cozinhar
muito. Pode fazer uma crua e duas
mais cozidas. Colocar uma colher
de chá do molho sobre cada vieira.
O segundo prato (do qual dou a
receita abaixo) estava lindamente
pousado numa folha de bambu e
era um quadrado do tamanho de
um caixa de fósforos pequena, com
a metade da espessura. Uma gominha de gergelim, ora, não sei explicar, daquelas coisas que se come, se
dorme e acorda pedindo para comer outra vez. Delicadíssimo. Geralmente, a comida da Mari Hirata
é de uma sutileza sem par.
O gomadofu (tofu de gergelim) se
faz com 70 g de gergelim descascado cru; 45 g de kudzu (arrow root,
que não é a nossa araruta, é feita de
mandioca) ou polvilho, ou fécula
de batata; 500 ml de água; wasabi e
shoyu. Colocar em uma frigideira
antiaderente os grãos de gergelim e
torrar levemente em fogo bem baixo até sentir um leve perfume torrado. Colocar em um pilão (Mari
colocou no pilão) ou em um moedor elétrico (será?) e moer os grãos
até formar uma pasta gordurosa.
Colocar essa pasta em uma panela com a água e a fécula, levar ao fogo médio sem parar de mexer. Depois que a mistura começar a engrossar, diminuir o fogo e continuar a mexer com uma colher de
pau ou espátula, de 15 a 20 minutos. Colocar a mistura em uma fôrma quadrada pequena (10 cm), levemente molhada. Cobrir enquanto quente com um filme plástico na própria superfície, para não formar
uma película. Esfriar na geladeira
por uma hora. Antes de servir, cortar em oito quadrados. Servir com
shoyu e wasabi (raiz forte japonesa).
Mari disse que se quiser pode fazer com tahine pronto, mas que fica infinitamente mais grosseiro.
O molhinho de raiz forte fresca
leva 100 ml de saquê; 50 ml de mirim (ou saquê doce) ou açúcar; 50
ml de shoyu; 1 colher (sopa) de raiz
forte fresca ralada ou wasabi em
tubo. Ferver o saquê com o mirim,
juntar depois o shoyu, desligar o
fogo e colocar a raiz forte ralada fininha depois de morno. Servir com
carne grelhada ou peixes, ou com o
tofu de gergelim, é claro.
ninahorta@uol.com.br
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