São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Projeto junta samba e política na Cracolândia

EM SÃO PAULO

O que começou em 1999 como uma rodinha de samba numa loja de instrumentos musicais reúne, hoje, cerca de 2.000 pessoas no último sábado de cada mês. O projeto Rua do Samba Paulista ganhou este nome há cinco anos, quando a roda passou a ocupar a rua do Triunfo, e agora tem direito a palco e aparelhagem de som montados no largo General Osório, também na Cracolândia, no centro de São Paulo.
"A Rua do Samba não é uma balada, mas um espaço de ocupação cultural e política", enfatiza Tadeu Augusto Mateus, o T.Kaçula, 34, coordenador do evento e integrante do Projeto Cultural Samba Autêntico.
Ele é músico, cantor, compositor e também pesquisador da história do samba. Está lançando, com Renato Dias, o CD "Samba Rural Urbano" e produzindo a série de 12 CDs "Memória do Samba Paulista", que contará com um livro seu (ao lado de Dias e Lígia Fernandes). Ao contrário do Terreiro Grande, o foco de T. Kaçula é o samba de São Paulo.
"Não é um movimento bairrista, pois adoramos Paulo da Portela, Dona Ivone Lara e muitos outros, mas queremos valorizar os sambistas daqui. Na maioria das rodas feitas em São Paulo, o que se toca é o samba carioca", explica ele.
Essa é a faceta mais cultural, recheada de homenagens a nomes das velhas-guardas das escolas de samba paulistas, como Carlão da Unidos de Peruche, reverenciado no último sábado ao lado de cuiqueiros de várias agremiações. O lado mais político começa a se revelar na falta de bebidas alcoólicas na mesa dos músicos que comandam a roda -em volta, vende-se cerveja à vontade.
"Um médico também não bebe em seu consultório. Não vamos salvar a vida de ninguém, mas aquele [a roda] é um espaço sagrado. E podemos dar o exemplo numa região tão degradada", diz Roberto Almeida de Oliveira, 38, outro coordenador do projeto e também da ONG Unegro (União de Negros pela Igualdade).
O movimento negro participa da organização da Rua do Samba -que ainda conta com apoio da prefeitura e do governo do Estado. Boa parte das seis horas (14h às 20h) de duração do evento é dedicada a mensagens militantes, além de exaltações a sambistas antigos. Para quem quiser só ouvir música, pode cansar.
"Acho essencial. Faz parte da festa", defendeu o vendedor Jefferson Mazzarella, 24.
Na busca de revitalizar a região, o grupo puxa há três anos o Cordão Carnavalesco Rua do Samba Paulista, que sai no último sábado de fevereiro pela Cracolândia fazendo uma folia à moda antiga. "Entra mendigo, prostituta, todo mundo", exalta Oliveira. (LFV)


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