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Projeto junta samba e política na Cracolândia
EM SÃO PAULO
O que começou em 1999 como uma rodinha de samba numa loja de instrumentos musicais reúne, hoje, cerca de 2.000
pessoas no último sábado de
cada mês. O projeto Rua do
Samba Paulista ganhou este
nome há cinco anos, quando a
roda passou a ocupar a rua do
Triunfo, e agora tem direito a
palco e aparelhagem de som
montados no largo General
Osório, também na Cracolândia, no centro de São Paulo.
"A Rua do Samba não é uma
balada, mas um espaço de ocupação cultural e política", enfatiza Tadeu Augusto Mateus, o
T.Kaçula, 34, coordenador do
evento e integrante do Projeto
Cultural Samba Autêntico.
Ele é músico, cantor, compositor e também pesquisador da
história do samba. Está lançando, com Renato Dias, o CD
"Samba Rural Urbano" e produzindo a série de 12 CDs "Memória do Samba Paulista", que
contará com um livro seu (ao
lado de Dias e Lígia Fernandes). Ao contrário do Terreiro
Grande, o foco de T. Kaçula é o
samba de São Paulo.
"Não é um movimento bairrista, pois adoramos Paulo da
Portela, Dona Ivone Lara e
muitos outros, mas queremos
valorizar os sambistas daqui.
Na maioria das rodas feitas em
São Paulo, o que se toca é o
samba carioca", explica ele.
Essa é a faceta mais cultural,
recheada de homenagens a nomes das velhas-guardas das escolas de samba paulistas, como
Carlão da Unidos de Peruche,
reverenciado no último sábado
ao lado de cuiqueiros de várias
agremiações. O lado mais político começa a se revelar na falta
de bebidas alcoólicas na mesa
dos músicos que comandam a
roda -em volta, vende-se cerveja à vontade.
"Um médico também não bebe em seu consultório. Não vamos salvar a vida de ninguém,
mas aquele [a roda] é um espaço sagrado. E podemos dar o
exemplo numa região tão degradada", diz Roberto Almeida
de Oliveira, 38, outro coordenador do projeto e também da
ONG Unegro (União de Negros
pela Igualdade).
O movimento negro participa da organização da Rua do
Samba -que ainda conta com
apoio da prefeitura e do governo do Estado. Boa parte das seis
horas (14h às 20h) de duração
do evento é dedicada a mensagens militantes, além de exaltações a sambistas antigos. Para
quem quiser só ouvir música,
pode cansar.
"Acho essencial. Faz parte da
festa", defendeu o vendedor
Jefferson Mazzarella, 24.
Na busca de revitalizar a região, o grupo puxa há três anos
o Cordão Carnavalesco Rua do
Samba Paulista, que sai no último sábado de fevereiro pela
Cracolândia fazendo uma folia
à moda antiga. "Entra mendigo,
prostituta, todo mundo", exalta
Oliveira.
(LFV)
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