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Atriz de "Tudors" quer "honrar" Bolena
Segunda temporada do seriado, que estreou na última quinta-feira, retrata o racha entre a Inglaterra e a Igreja Católica
Em entrevista à Folha, Natalie Dormer, que faz o papel de Ana Bolena, diz crer que conflitos de 500 anos atrás continuam atuais
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Aquele era um tempo de
instabilidade política global,
em que paixões, religião, corrupção e intriga faziam parte
das relações de poder em potências como a Inglaterra e acabavam determinado mudanças
na história em geral", diz à Folha a britânica Natalie Dormer,
26, que interpreta a mítica figura de Ana Bolena em "The Tudors", cuja segunda temporada
estreou na última quinta-feira,
no People & Arts.
Apesar de retratar uma sociedade de cerca de 500 anos
atrás, Dormer acha que, pelas
razões apontadas acima, o programa mostra como os elementos essenciais da política são
atemporais. "O envolvimento
de paixões pessoais com o poder é algo que faz parte da natureza humana. E também, se
olharmos para os conflitos que
a religião causava naquele tempo e como hoje ela contamina
as relações entre países, vemos
que também nessa área pouca
coisa mudou", compara.
"The Tudors" é um retrato
fictício do período em que a dinastia homônima reinou a Inglaterra, entre 1485 a 1603. O
início da trama gira em torno
dos arroubos de Henrique 8º
(Jonathan Rhys Meyers), que
possibilitaram que a Reforma
religiosa, apoiada nas idéias do
teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546), também se difundisse em território inglês.
Como é bem sabido, não foram razões de devoção que levaram Henrique 8º a romper
com a autoridade papal. A recusa de Clemente 7º a conceder
ao rei a permissão de divorciar-se de Catarina de Aragão, para
que pudesse se casar com sua
amante, Ana Bolena, detonou o
rompimento entre a Inglaterra
e a Igreja Católica, em Roma.
A primeira temporada de
"The Tudors" mostra o começo
desse processo. Henrique 8º,
descontente com o fato de que
sua esposa não lhe havia dado
um filho que garantisse a permanência da linhagem no trono, passa a desejar a separação.
Ao mesmo tempo, surge a manipuladora e sedutora Ana Bolena, filha de um nobre de pouca influência, por quem Henrique 8º se apaixona.
"Corajosa e apaixonada"
Dormer diz que, para viver o
papel, leu biografias e visitou os
lugares onde Bolena viveu. Aos
poucos, esse personagem controverso, que quase rachou a
Inglaterra por conta de sua ambição para se tornar rainha, foi
se transformando aos olhos da
atriz. "Meu respeito por ela
cresceu muito. Há um estereótipo negativo com relação a Bolena. Mas aos poucos fui percebendo que, na verdade, tratou-se de uma mulher muito corajosa e apaixonada, que se impôs
num ambiente no qual não lhe
faltaram inimigos", diz.
Quando o segundo ano da série começa, Henrique 8º está
confrontando diretamente a
Igreja. Decide tornar-se chefe
supremo da instituição em seu
país e líder espiritual de seu povo. O até então influente e corrupto cardeal Wolsey, contra a
decisão, perde espaço para
Thomas Cromwell, a favor das
reformas. E a coroa passa a perseguir e a decapitar os que se
opunham à nova ordem.
O casamento com Catarina
de Aragão é, então, considerado
nulo. A coroa de rainha passa
para Bolena, em 1533. Mas sua
vida de rainha duraria pouco.
Em 1536, acusada de traição,
num complô armado por
Cromwell, é condenada à morte e termina decapitada.
"O discurso dela antes de sua
execução é praticamente o
mesmo que eu declamo na série. Manter esse texto quase fiel
ao original foi uma forma de
honrar seu caráter. Me emocionei muito na gravação da cena."
O seriado, escrito por Michael Hirst, também roteirista
de "Elizabeth" (com Cate Blanchet), adaptou e mudou vários
eventos e personagens da história real. Fusão de algumas
personalidades, alterações nas
datas de batalhas e anacronismos foram cometidos em detrimento de tornar o show mais
atraente. Henrique 8º, por
exemplo, era um homem grande, glutão e bem mais velho do
que Ana Bolena quando ambos
se casam. Contudo, na série, ele
é vivido pelo galã Jonathan
Rhys Meyers (de "Match
Point", de Woody Allen) e retratado como um herói atlético
e sexomaníaco.
Seis mulheres
Hirst defende sua opção dizendo que, apesar do estereótipo histórico, o rei em sua juventude havia sido um homem belo. Só o que ele fez foi mantê-lo
jovem por mais tempo.
Mesmo com as adaptações, o
essencial tem se mantido fiel
aos fatos. A terceira temporada,
em 2009, começará após a
morte de Bolena. Henrique 8º
casou-se com seis mulheres ao
todo. E, em vez de garantir uma
sucessão tranqüila, deixou como legado o conflito entre filhos legítimos e ilegítimos. Ou
seja, ainda há muito pano para
manga e temporadas futuras.
Dormer, porém, lamenta não
poder continuar na série, mas
garante: "Não haverá outra rainha Tudor como Ana Bolena".
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