São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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Atriz de "Tudors" quer "honrar" Bolena

Segunda temporada do seriado, que estreou na última quinta-feira, retrata o racha entre a Inglaterra e a Igreja Católica

Em entrevista à Folha, Natalie Dormer, que faz o papel de Ana Bolena, diz crer que conflitos de 500 anos atrás continuam atuais


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Aquele era um tempo de instabilidade política global, em que paixões, religião, corrupção e intriga faziam parte das relações de poder em potências como a Inglaterra e acabavam determinado mudanças na história em geral", diz à Folha a britânica Natalie Dormer, 26, que interpreta a mítica figura de Ana Bolena em "The Tudors", cuja segunda temporada estreou na última quinta-feira, no People & Arts.
Apesar de retratar uma sociedade de cerca de 500 anos atrás, Dormer acha que, pelas razões apontadas acima, o programa mostra como os elementos essenciais da política são atemporais. "O envolvimento de paixões pessoais com o poder é algo que faz parte da natureza humana. E também, se olharmos para os conflitos que a religião causava naquele tempo e como hoje ela contamina as relações entre países, vemos que também nessa área pouca coisa mudou", compara.
"The Tudors" é um retrato fictício do período em que a dinastia homônima reinou a Inglaterra, entre 1485 a 1603. O início da trama gira em torno dos arroubos de Henrique 8º (Jonathan Rhys Meyers), que possibilitaram que a Reforma religiosa, apoiada nas idéias do teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546), também se difundisse em território inglês.
Como é bem sabido, não foram razões de devoção que levaram Henrique 8º a romper com a autoridade papal. A recusa de Clemente 7º a conceder ao rei a permissão de divorciar-se de Catarina de Aragão, para que pudesse se casar com sua amante, Ana Bolena, detonou o rompimento entre a Inglaterra e a Igreja Católica, em Roma.
A primeira temporada de "The Tudors" mostra o começo desse processo. Henrique 8º, descontente com o fato de que sua esposa não lhe havia dado um filho que garantisse a permanência da linhagem no trono, passa a desejar a separação. Ao mesmo tempo, surge a manipuladora e sedutora Ana Bolena, filha de um nobre de pouca influência, por quem Henrique 8º se apaixona.

"Corajosa e apaixonada"
Dormer diz que, para viver o papel, leu biografias e visitou os lugares onde Bolena viveu. Aos poucos, esse personagem controverso, que quase rachou a Inglaterra por conta de sua ambição para se tornar rainha, foi se transformando aos olhos da atriz. "Meu respeito por ela cresceu muito. Há um estereótipo negativo com relação a Bolena. Mas aos poucos fui percebendo que, na verdade, tratou-se de uma mulher muito corajosa e apaixonada, que se impôs num ambiente no qual não lhe faltaram inimigos", diz.
Quando o segundo ano da série começa, Henrique 8º está confrontando diretamente a Igreja. Decide tornar-se chefe supremo da instituição em seu país e líder espiritual de seu povo. O até então influente e corrupto cardeal Wolsey, contra a decisão, perde espaço para Thomas Cromwell, a favor das reformas. E a coroa passa a perseguir e a decapitar os que se opunham à nova ordem.
O casamento com Catarina de Aragão é, então, considerado nulo. A coroa de rainha passa para Bolena, em 1533. Mas sua vida de rainha duraria pouco. Em 1536, acusada de traição, num complô armado por Cromwell, é condenada à morte e termina decapitada.
"O discurso dela antes de sua execução é praticamente o mesmo que eu declamo na série. Manter esse texto quase fiel ao original foi uma forma de honrar seu caráter. Me emocionei muito na gravação da cena."
O seriado, escrito por Michael Hirst, também roteirista de "Elizabeth" (com Cate Blanchet), adaptou e mudou vários eventos e personagens da história real. Fusão de algumas personalidades, alterações nas datas de batalhas e anacronismos foram cometidos em detrimento de tornar o show mais atraente. Henrique 8º, por exemplo, era um homem grande, glutão e bem mais velho do que Ana Bolena quando ambos se casam. Contudo, na série, ele é vivido pelo galã Jonathan Rhys Meyers (de "Match Point", de Woody Allen) e retratado como um herói atlético e sexomaníaco.

Seis mulheres
Hirst defende sua opção dizendo que, apesar do estereótipo histórico, o rei em sua juventude havia sido um homem belo. Só o que ele fez foi mantê-lo jovem por mais tempo.
Mesmo com as adaptações, o essencial tem se mantido fiel aos fatos. A terceira temporada, em 2009, começará após a morte de Bolena. Henrique 8º casou-se com seis mulheres ao todo. E, em vez de garantir uma sucessão tranqüila, deixou como legado o conflito entre filhos legítimos e ilegítimos. Ou seja, ainda há muito pano para manga e temporadas futuras.
Dormer, porém, lamenta não poder continuar na série, mas garante: "Não haverá outra rainha Tudor como Ana Bolena".


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