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São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2003

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"FREDDY X JASON"

Rivais esticam existências sem comover

Divulgação
Os vilões Freddy Krueger (Robert Englund) e Jason Voorhees (Ken Kirzinger) no filme de Ronny Yu


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Vale tudo: para reencontrar seu poder, Freddy Krueger convoca Jason no inferno, a fim de que ele pratique um crime em Elm Street, para que os adolescentes pensem que o autor do crime é o próprio Freddy e voltem a ter medo. Com isso, ele poderá reencontrar sua força e voltar à ativa.
Ainda que um tanto defasado, o lance faz sentido, pois trata-se de pôr lado a lado, ou frente a frente, os dois monstros de maior sucesso do terror contemporâneo.
Os problemas, porém, são previsíveis, e existem. Jason, o matador de Crystal Lake, tem como alvo jovens razoavelmente limítrofes, que liquida sem piedade, num horror baseado em sustos.
Freddy Krueger, de "A Hora do Pesadelo" e mais seis sequências é um personagem infinitamente mais sofisticado. Age instalando-se nos sonhos, transformando-os em pesadelos cruelmente reais.
Ou seja, Freddy convoca todo o imaginário, subverte a ordem do real, instaura-se no coração das inseguranças de suas jovens vítimas (e assim todos somos suas vítimas). Ao menos dois filmes da série são muito interessantes.
O que se esperava de Ronny Yu -que já mostrou antes domínio do fantástico- era que contornasse as limitações de Jason e as pusesse no diapasão de Freddy.
Mas, como Jason ataca os cretinos e Freddy, os sensíveis, juntar essas duas turmas não é simples. De todo modo, é o imaginário tacanho de Jason que se impõe, à custa de Freddy e de Yu.
O roteiro sugere um fio de fato interessante, que Yu não puxou: o mundo adolescente, ainda quando precário, é fundado na verdade e na descoberta; o dos adultos, na ocultação e na mentira.
Basta lembrar que alguns dos rapazes de "A Hora do Pesadelo" estavam num hospício. A idéia era que, isolando os traumatizados de aventuras pregressas, a população esqueceria Freddy Krueger e voltaria a dormir em paz.
Existe também o duelo dos rivais unidos para esticar suas existências perversas sem forçar a cabeça de ninguém. O duelo não comove -essa inimizade, é óbvio, é puro marketing, como um namoro-relâmpago criado para sair nas revistas de celebridades.


Freddy x Jason
Idem
  
Produção: EUA, 2003
Diretor: Ronny Yu
Com: Robert Englund, Ken Kirzinger
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, West Plaza e circuito



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