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"O FATALISTA"
Diretor comparece ao evento com filme e como júri para fazer defesa do cinema autoral
Botelho explica "marca poética" portuguesa
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
João Botelho é, ao lado de Manoel de Oliveira, João César Monteiro e meia dúzia de outros, uma
das raríssimas naus da esquadra
de cineastas portugueses que consegue atracar em festivais de cinema internacionais. A mesma,
também, que cruza o Atlântico,
repetindo Pedro Álvares Cabral, e
chega ao Brasil com filmes ou integrando o júri da 29ª Mostra Internacional de Cinema de SP.
Caso de Botelho, que traz ao festival o seu mais recente filme, "O
Fatalista", baseado livremente no
livro homônimo de Diderot, falando sobre um chofer que relata
ao seu patrão suas aventuras
amorosas, entre parada e outra na
estrada. A grande questão, aqui, é
discutir sobre o papel do narrador
e sobre o cinema.
"Diderot é o pai da narrativa
moderna, seu fatalismo é libertário. Meu filme celebra, sobretudo,
a liberdade", conta Botelho. Sobre
os textos clássicos que habitam
sua filmografia, que conta até
com releitura homônima de
"Tempos Difíceis", de Charles
Dickens, ele diz que são "pré-textos" para falar sobre coisas que o
interessam, como nos cutucar sobre a condição atual de seu país.
Sobre o mito de dom Sebastião,
item freqüente nas artes lusitanas
e presente em "Quem És Tu" (01),
Botelho diz que "o mito interessa,
mas não a solução deste mito, e a
pergunta do filme é "o que é Portugal hoje?'". Seus filmes, feitos
sob total liberdade, têm mais a ver
com outra tradição portuguesa, a
poesia. "O nosso cinema tem
muita marca poética, mais do que
de prosa, portanto menos narrativa e mais contemplação." Isso se
pronuncia desde seu primeiro
longa, "Conversa Acabada" (82),
e trespassa obras como o radical
"Três Palmeiras" (94), o distópico
"Tráfico" (98) e o besteirol "A
Mulher que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos" (03).
"Só podemos nos firmar neste
mundo globalizado impondo
nossa diferença", brada. Que está
numa similitude do modo de produção, que é artesanal e permite
"autoralidades". O custo médio
de um filme, nos diz Botelho, fica
em US$ 750 mil (R$ 1,7 milhão),
levando uma média de 35 mil espectadores às salas. Uma superprodução, algo escasso nos últimos anos, após uma década que
se tentou uma indústria cinematográfica, custa por volta de US$
1,5 milhão (R$ 3,4 milhões), mas
resulta em trabalhos menos
atraentes ao gosto popular do que
os longas norte-americanos, que
ocupam hoje 89% das salas.
"O cinema mais comercial de
Portugal é o de Manoel de Oliveira, porque vai aos festivais internacionais e é exibido nas TVs, fazendo 40 mil espectadores no país
e o triplo no estrangeiro", conclui
Botelho, cujo próximo projeto é
fundir os escritos do "Evangelho
Segundo São Marcos" e Machado
de Assis.
O Fatalista
Direção: João Botelho
Quando: hoje, às 15h50, no Frei Caneca Arteplex
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