São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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Crítica

Diretora busca estilo sem imitar grandes mestres

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nas cenas de abertura de "A Religiosa Portuguesa", os personagens olham para a câmera como se ela fosse o interlocutor. Lembra os filmes de Yasujiro Ozu, claro, mas a tendência é perguntar o que de Ozu está sobrando ou faltando nisso.
Não é Ozu, em todo caso. Em vários outros momentos, o filme de Eugène Green lembra os de Robert Bresson, sobretudo na direção de atores, mas falta-lhe a firmeza que em Bresson vinha de décadas de luta com as convenções do cinema.
O argumento retoma uma prática corrente de (bons) roteiros atuais, em que duas histórias se superpõem. No caso, Julie, atriz francesa (Leonor Baldaque), vem a Lisboa rodar cenas de um filme em que faz, precisamente, o papel de uma religiosa portuguesa.
Julie explora Lisboa. Seus passeios são encontros variados: com um quase suicida, um menino para quem busca pais adotivos etc. O centro: ela sente a vida escapar-lhe, não importa o quanto estabelecer relações sexuais lhe seja fácil.
Todo o tempo, a direção parece tatear em busca de um estilo que expresse a espiritualidade do enredo sem imitar os grandes mestres desse estilo. O grande momento é o do encontro entre a atriz e uma verdadeira religiosa. Ali muitas coisas vão se esclarecer para a atriz. Mas trata-se também de uma conversa tão explicativa que, às vezes, tendemos a nos perder dentro dela. É um ponto delicado, em que, de tanto investir nesse encontro, o filme ameaça sucumbir a ele.
Se isso não se dá é, em boa medida, graças a certas réplicas notáveis, como esta em que Julie explica sua atividade à freira: "Sou atriz, tento mostrar a verdade através de coisas irreais". A freira: "Deus fez o mesmo ao criar o mundo".


A RELIGIOSA PORTUGUESA

Quando: hoje, às 22h, no Unibanco Arteplex 4 (12 anos)
Avaliação: bom




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