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34º MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
Mostra exibe filme salvo de incidente
Diretora brasileira Iara Lee gravou ação de soldados israelenses e ativistas em navio turco que resultou em 9 mortos
Filme "Culturas da Resistência" roda por periferias mostrando poder transformador de manifestações de arte
MORRIS KACHANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mais notável do que o documentário "Culturas da Resistência" é a trajetória da diretora, a brasileira de ascendência coreana Iara Lee, 44.
Ex-mulher de Leon Cakoff, com quem esteve à frente dos primórdios da Mostra na década de 80, ela apareceu nos jornais do planeta em julho.
São dela as filmagens do incidente com soldados israelenses e ativistas do navio
turco Mavi Marmara, que terminou em nove mortes.
O navio tentava furar o bloqueio a Gaza e foi interceptado em uma ação militar
desastrada. Iara era a única brasileira a bordo. Não estava ali por acaso.
Segundo ela, tudo começou com a guerra no Iraque,
em 2003. Em absoluto desacordo com a intervenção
americana, decidiu abandonar Nova York, onde residia desde o final dos anos 80.
Tornou-se uma ativista multimídia sintonizada com as tragédias globais.
A partir de então, optou
por um estilo de vida a que
chama de nomadismo. Viajou por 25 países, de preferência aqueles considerados
"não recomendáveis" pelo
Departamento de Estado
americano -Irã, Líbano, Afeganistão, Congo, Ruanda...
"É aí que você tem de ir.
São os países mais interessantes, onde as pessoas travam uma luta diária pela sobrevivência e têm uma força incrível", diz Iara, em entrevista por Skype, de Sarajevo.
REALIDADES DISTINTAS
Como filme, "Culturas da Resistência" deixa a desejar.
É um documentário que roda a periferia do mundo mostrando as diversas manifestações de arte engajada e seu poder transformador.
Grafite e hip-hop em Teerã, capital iraniana. Jogos de capoeira nos campos de refugiados palestinos, no Líbano.
Poesia em Kinshasa, no Congo, considerada pela ONU a capital mundial do estupro.
É tudo muito curioso, mas são tantas e tão distintas as
realidades de cada país retratado que a abordagem do filme acaba se tornando superficial, algumas vezes incompreensível e unilateral -só os oprimidos têm voz.
Imagine o Fórum Social Mundial, onde afloram todos os tipos de demandas por justiça -social, racial, ambiental. Este é o denominador comum do filme. Até índios contra Belo Monte tem.
"Nossa ideia é promover uma rede de solidariedade
global. Há muito ego e rivalidade no meio, até porque a verba é pouca", explica Iara.
"Culturas da Resistência" foi produzido pela Fundação Caipirinha, que, além de fazer filmes, já garantiu apoio a ações como o concerto da Filarmônica de Nova York na Coreia do Norte, em 2008.
A instituição é privada e tem no milionário americano George Gund, parceiro atual
de Iara, seu maior patrocinador. "Não adianta apenas fazer documentário. Tem de intervir na realidade", diz.
CULTURAS DA RESISTÊNCIA
DIREÇÃO Iara Lee
QUANDO hoje, às 14h20, no Unibanco Arteplex 5; amanhã, às 14h, no Unibanco Arteplex 4; e dia 4, às 13h, no Unibanco Arteplex 3
CLASSIFICAÇÃO livre
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