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"Lulu" é filme de (auto) referências
CECÍLIA SAYAD
da Redação
"Lulu sobre a Ponte", primeiro
longa dirigido exclusivamente pelo escritor norte-americano Paul
Auster (que dividiu a direção de
"Sem Fôlego" com Wayne Wang e
assinou o roteiro de "Cortina de
Fumaça"), é antes de tudo um filme cheio de referências.
O longa, que será exibido na programação extra da Mostra hoje,
trata da história de Izzy (Harvey
Keitel), um saxofonista famoso
que é baleado e precisa deixar de
tocar. A vida, para ele, passa a não
fazer mais sentido.
Até que Izzy vê na rua um cadáver e remexe seus pertences; entre
eles, uma caixa com uma pedra.
Intrigado, leva a pedra para casa e
nota que ela tem dons misteriosos.
Junto à pedra há um guardanapo
com um número de telefone. Buscando uma conexão com o objeto,
Izzy telefona e descobre que o número pertence a Celia (Mira Sorvino), uma jovem atriz.
É então que sua vida dá uma reviravolta -e que começam as citações. A começar pela auto-referência. A obra de literária de Auster é
permeada de personagens que têm
suas vidas transformadas por
eventos que, de tão abruptos, parecem casuais, mas são de tal forma
determinantes e inevitáveis que assumem caráter de obra do destino,
quando não de fantástico.
Em "Palácio da Lua" e "A Música
do Acaso", por exemplo, o elemento transformador é uma herança.
Não é muito diferente nesse "Lulu", em que a pedra encontrada pelo músico surge como uma bênção
num momento de desespero
-Izzy apaixona-se por Celia e encontra na atriz um novo sentido
para sua vida, "destruída" pelo fato de ter que abandonar a música.
Mas a posse do objeto tem um
preço. Celia é chamada para interpretar Lulu no cinema -papel que
faz referência à peça "Lulu - O Espírito da Terra", de Paul Wedekind, e ao filme de Pabst, "Lulu - A
Caixa de Pandora". As gravações
são em outra cidade, Izzy lhe confia a pedra e tudo muda para pior.
É a vez de o mito de Pandora entrar em jogo -de acordo com a
tradição grega, foi ela que, desafiando ordens divinas, abriu a caixa que lhe fora confiada, transformando o destino da humanidade.
O filme é envolto numa atmosfera onírica que dá a sensação de que
nada é o que parece ser. Auster parece pouco se importar. Do mito,
afinal, o importante é o que se conta, e não se realmente existiu.
˛
Quando: hoje, às 12h, no Masp (grande
auditório)
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