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"Folias" fica entre o musical e o proselitismo
da Reportagem Local
O título leva ao cineasta italiano
Federico Fellini, bem como a situação da peça: uma filmagem é perturbada pela chegada de um personagem singelo e desmistificador
de nome Ninguém, que lembra
João Grilo e outros da tradição do
teatro popular.
Mas "Folias Fellinianas" está
mais para o circo pobre e algo grotesco, próprio da miséria brasileira
e já retratado na montagem anterior do diretor Marco Antonio Rodrigues, "O Assassinato do Anão",
de Plínio Marcos, do que para o cinema lúdico que se relaciona costumeiramente a Fellini.
O tema de fundo é o Brasil, a
identidade nacional, e a palavra-chave, como repete várias vezes o
texto, é "resistir".
Em cena, opõem-se dois caminhos: o de Ninguém, que é um carteiro (o qual, aliás, também lembra
muito o personagem de Massimo
Troisi no filme "O Carteiro e o
Poeta"), e o de Brasil, tornado a estrela do filme-dentro-da-peça e
que seria, no dizer do cineasta da
peça, "o homo brasilis do século
21". Brasil, o personagem, interpretado com vigor e sensualidade
por Rogério Bandeira, é uma alegoria semifascista de um tempo de
dominação do capital, "um homem novo, um homem que seja
um produto vendável". É preciso
"resistir", assim, a este novo "homo brasilis".
A mensagem política carregada e
a estética grotesca tornam "Folias
Fellinianas" um espetáculo, por
vezes, discursivo e mesmo desagradável. Mas é flagrante que a encenação faz o possível para erguer
um espetáculo também de prazer,
até de entretenimento.
E não tem poucos trunfos para
isso, a começar dos vários talentos
de Renata Zhaneta, que faz Ninguém com grande empatia e chega
a cantar, com afinação e graça
-ainda que com uma voz de pouco alcance, o que um simples microfone resolveria, até porque não
se trata de show e sim de teatro.
Os vários números musicais,
deste que é um musical de fato, são
todos bem cuidados e integrados
tanto à trama como à própria encenação, com atores instrumentistas e cantores. É uma pena que se
percam muitas vezes, na longa
apresentação, em meio ao proselitismo, por mais inteligente e bem
articulado que este seja.
(NS)
˛
Peça: Folias Fellinianas
Texto: Reinaldo Maia
Direção: Marco Antonio Rodrigues
Direção musical: Sérgio Villafranca
Com: Renata Zhaneta, Rogério Bandeira,
Guilherme Santánna e outros
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: Teatro Aliança Francesa (r. General
Jardim, 182, tel. 011/259-0086)
Quanto: R$ 10 (qui.) e R$ 20 (sex. a dom.)
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