São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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MEMÓRIA

Fotógrafo Herb Ritts, morto no último dia 26, soube como poucos reproduzir o glamour das celebridades americanas

Hollywood fica viúva do fotógrafo Herb Ritts

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

O mundo das celebridades de Hollywood está de luto. Herb Ritts, o fotógrafo que conseguiu atribuir glamour e elegância aos personagens da indústria de entretenimento norte-americana, morreu no último dia 26, aos 50 anos de idade, em virtude de uma pneumonia.
Nascido, criado e estabelecido em Los Angeles, Ritts tornou-se um fotógrafo talhado para o mercado, o queridinho dos editores de arte, o midas das personalidades em ascensão e o tradutor oficial do ego exacerbado dos famosos. Imperou desde o início dos anos 80, em publicações como "Vanity Fair", "Vogue", "Harper's Bazaar" e "Elle", tornando-se referência para fotógrafos que se dedicam ao retrato mundo afora. Para uma modelo iniciante, ser fotografa por Ritts podia significar um atalho para o estrelato.
A estética calcada nos retratos em preto-e-branco com iluminação de estúdio ou natural, o enquadramento e os temas fotografados alçaram Ritts ao panteão de fotógrafos consagrados, como Richard Avedon, Helmut Newton e Bruce Webber. Ritts, pode-se dizer, tornou-se o ponto de convergência entre esses três fotógrafos. O que foi um problema.
Preocupado em demasia em atender ao gosto pasteurizado do mercado publicitário e dos editoriais de moda, os retratos de Ritts raramente alcançam a linguagem libertária e iconoclasta de Avedon, a sensualidade luxuosa de Newton ou a alegria escancaradamente gay de Webber. Ao tentar ser um contraponto entre seus pares, o trabalho de Ritts se ressente de um passo a mais na direção da ousadia, da autocrítica e da autonomia autoral. Faltou quebrar os espelhos, impor sua marca, seu estilo ao mercado, e não vice-versa.
Mas são poucos os loucos que se aventuram na contramão da história, e nunca foi esse o intuito de Ritts, que também tornou-se uma celebridade e, como tal, não coube a ele fazer uma crítica no sentido de questionar os cânones dessa estética. Dessa forma, ele reforçou a crença no mundo das aparências, do efêmero, do jeito Los Angeles de ser.
Nesse sentido, Ritts é um fotógrafo pós-moderno, de uma linhagem anterior a Annie Leibovitz, esta sim, a fotógrafa que transforma pessoas em embalagens, em subprodutos do marketing. Modalidade na qual se fotografa não as pessoas, mas sim o verniz publicitário delas. Celebridades vistas como bens de consumo, business...
Ritts, embora perseguisse caminho semelhante, conseguiu acrescentar a esse conceito uma certa poética e uma forma de glamour menos pasteurizada, como se atesta nos seus quatro livros: "Men/Women" (89), no qual ele retrata a beleza e a sensualidade de ambos os sexos, "Duo" (91) onde sua homossexualidade extravasa em retratos de casais gays, "Notorious" (92), com imagens das celebridades do cinema e das artes, e "Africa" (1994), o trabalho mais diverso, fruto de viagens ao continente africano.



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