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MEMÓRIA
Fotógrafo Herb Ritts, morto no último dia 26, soube como poucos reproduzir o glamour das celebridades americanas
Hollywood fica viúva do fotógrafo Herb Ritts
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
O mundo das celebridades de
Hollywood está de luto.
Herb Ritts, o fotógrafo que conseguiu atribuir glamour e elegância
aos personagens da indústria de
entretenimento norte-americana,
morreu no último dia 26, aos 50
anos de idade, em virtude de uma
pneumonia.
Nascido, criado e estabelecido
em Los Angeles, Ritts tornou-se
um fotógrafo talhado para o mercado, o queridinho dos editores
de arte, o midas das personalidades em ascensão e o tradutor oficial do ego exacerbado dos famosos. Imperou desde o início dos
anos 80, em publicações como
"Vanity Fair", "Vogue", "Harper's Bazaar" e "Elle", tornando-se referência para fotógrafos que
se dedicam ao retrato mundo afora. Para uma modelo iniciante, ser
fotografa por Ritts podia significar um atalho para o estrelato.
A estética calcada nos retratos
em preto-e-branco com iluminação de estúdio ou natural, o enquadramento e os temas fotografados alçaram Ritts ao panteão de
fotógrafos consagrados, como Richard Avedon, Helmut Newton e
Bruce Webber. Ritts, pode-se dizer, tornou-se o ponto de convergência entre esses três fotógrafos.
O que foi um problema.
Preocupado em demasia em
atender ao gosto pasteurizado do
mercado publicitário e dos editoriais de moda, os retratos de Ritts
raramente alcançam a linguagem
libertária e iconoclasta de Avedon, a sensualidade luxuosa de
Newton ou a alegria escancaradamente gay de Webber. Ao tentar
ser um contraponto entre seus
pares, o trabalho de Ritts se ressente de um passo a mais na direção da ousadia, da autocrítica e da
autonomia autoral. Faltou quebrar os espelhos, impor sua marca, seu estilo ao mercado, e não vice-versa.
Mas são poucos os loucos que se
aventuram na contramão da história, e nunca foi esse o intuito de
Ritts, que também tornou-se uma
celebridade e, como tal, não coube a ele fazer uma crítica no sentido de questionar os cânones dessa estética. Dessa forma, ele reforçou a crença no mundo das aparências, do efêmero, do jeito Los
Angeles de ser.
Nesse sentido, Ritts é um fotógrafo pós-moderno, de uma linhagem anterior a Annie Leibovitz, esta sim, a fotógrafa que
transforma pessoas em embalagens, em subprodutos do marketing. Modalidade na qual se fotografa não as pessoas, mas sim o
verniz publicitário delas. Celebridades vistas como bens de consumo, business...
Ritts, embora perseguisse caminho semelhante, conseguiu acrescentar a esse conceito uma certa
poética e uma forma de glamour
menos pasteurizada, como se
atesta nos seus quatro livros:
"Men/Women" (89), no qual ele
retrata a beleza e a sensualidade
de ambos os sexos, "Duo" (91)
onde sua homossexualidade extravasa em retratos de casais gays,
"Notorious" (92), com imagens
das celebridades do cinema e das
artes, e "Africa" (1994), o trabalho
mais diverso, fruto de viagens ao
continente africano.
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