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Teatrólogo Gianni Ratto morre aos 89 anos
Italiano radicado no Brasil desde 1954, diretor trabalhou com Maria Della Costa e Fernanda Montenegro
DA REPORTAGEM LOCAL
O teatrólogo Gianni Ratto, um
dos mais respeitados cenógrafos e
diretores do teatro brasileiro,
morreu ontem à tarde, aos 89
anos, em São Paulo, vítima de um
câncer na bexiga. Velado ontem,
em sua casa, no bairro do Pacaembu, o corpo será cremado na
manhã de hoje, na Vila Alpina, segundo informou Kati Almeida
Braga, sua ex-mulher.
Ator, diretor, cenógrafo e iluminador, Gianni Ratto nasceu em
Milão, na Itália, em 1916. Foi vice-diretor técnico do Scalla de Milão
e trabalhou com nomes como
Igor Stravinski antes de se transferir para o Brasil, em 1954, a convite da atriz Maria Della Costa, para
dirigir "O Canto da Cotovia", um
drama do francês Jean Anouilh
que inaugurou o teatro que recebeu o nome da atriz, em SP.
No palco, sob a direção de Ratto, Della Costa contracenava com
Sérgio Britto, Eugênio Kusnet,
Fernanda Montenegro e Fernando Torres, entre outros.
Em entrevista à Folha, em 2004,
Della Costa lembrou seu encontro
com Ratto. "Fomos à Itália em
1953, com a cara e a coragem, eu e
Sandro [Polloni, seu marido].
Dois jovens que não tinham um
tostão, praticamente. Chegamos a
Milão e nos disseram que o Ratto
era um dos sete melhores cenógrafos do mundo. Conversamos
com ele, explicamos que estávamos terminando de construir o
teatro. Ele aceitou. Chegando
aqui, começamos os ensaios da
única peça que ele trouxe debaixo
dos braços: "O Canto da Cotovia".
Calhou comigo no papel de Joana
d'Arc, desbravando um teatro ali
numa travessa da av. 9 de Julho,
onde era tudo mato."
O crítico teatral Sábato Magaldi
também destacou a importância
que Ratto já tinha adquirido antes
de vir ao país. "Em primeiro lugar, temos de lembrar que o Gianni era o mais importante cenógrafo de teatro italiano quando ele
veio para o Brasil. (...) Ele se identificou muito com o país", afirmou ontem o crítico.
A diretora Ariela Goldmann,
para quem Ratto fez diversos cenários, lembrou a generosidade
do teatrólogo. "Estamos perdendo uma pessoa muito generosa.
Ele teve uma importância crucial
na cultura brasileira, pois ensinava gerações. Estava interessado
no porvir. Aprendi com ele que a
primeira pessoa que tinha de ficar
satisfeita com o meu trabalho era
eu mesma", disse.
Gianni Ratto também trabalhou
em diversas óperas, colaborando
com os teatros municipais de São
Paulo e do Rio de Janeiro. Criou
figurinos para cerca de 50 produções e, para muitas delas (como
"Elixir" e "Suor Angelica"), assinou também cenários e direção
de cena. Em outubro passado, teve uma exposição de seus figurinos no Teatro Municipal de SP.
Em setembro de 2004, Ratto recebeu o título de cidadão paulistano, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo em reconhecimento a seu trabalho no teatro
nacional. Em outubro do mesmo
ano, foi homenageado pela Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São
Paulo com o Prêmio Apetesp, por
sua contribuição para o desenvolvimento do teatro paulista nos últimos 50 anos.
Documentário
"A beleza é uma meretriz que se
entrega facilmente a santos e assassinos", escreveu Ratto no livro
de memórias "A Mochila do Mascate" (ed. Hucitec, 1996). A obra
inspirou documentário de mesmo nome exibido na última Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo -deve estrear no primeiro semestre de 2006-, com
roteiro de sua filha, Antonia Ratto, 29, em parceria com a diretora
Gabriela Greeb. No filme, acompanhado de Antonia, Ratto refaz
o percurso de sua vida, passando
por Gênova, Milão, Florença, São
Paulo e Rio de Janeiro.
Além das memórias, Ratto tangenciou a ficção em "Noturnos" e
"Crônicas Improváveis" (ambos
da ed. Códex), discorreu sobre
ofício em "Antitratado da Cenografia" (ed. Senac) e "Hipocritando - Fragmentos e Páginas Soltas"
(ed. Bem-Te-Vi).
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