São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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1ª Guerra é cenário para "Lost Girls 3"

Na última parte de sua HQ erótica, Alan Moore defende a bandeira do "faça amor, não faça guerra"

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Trata-se de uma história escrita por um dos maiores roteiristas contemporâneos de quadrinhos, Alan Moore, e ilustrada por sua então namorada, e hoje mulher, a talentosa Melinda Gebbie. Entretanto, "Lost Girls", cujo terceiro e último número, "O Grande e Terrível", sai agora no Brasil, é polêmica, incômoda e vem como uma aura provocativa.
Mas o que incomoda mais ao leitor? Ser uma obra erótica que fala de orgias, incesto, pedofilia e até sexo com animais, ou o fato de as três protagonistas serem originárias da literatura infantil clássica? Alice, aquela do País das Maravilhas; Wendy, a amiga de Peter Pan; e Dorothy, de "O Mágico de Oz", são as estrelas desta série "Lost Girls". Mas elas não são como você se lembra delas.
Nesta história, Alan Moore ambientou as três moças -agora, mulheres adultas- em um hotel na Áustria, em 1913. Elas se conheceram no primeiro volume e começaram a trocar confissões e memórias íntimas.
Em cada lembrança há uma homenagem, por meio de uma metáfora ou um delírio, aos livros originais das personagens. No segundo volume, as três mulheres já estão mais íntimas.
As conversas, sempre de teor erótico, são acompanhadas de sexo e masturbação. Ao mesmo tempo em que elas estão relembrando suas descobertas sexuais, o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando é assassinado com um tiro. É neste cenário que começa o último livro da série. A Primeira Guerra Mundial está para acontecer. Enquanto isso, alheias a tudo, Alice, Dorothy e Wendy, entre um e outro ato sexual, continuam tentando entender os traumas, desejos e segredos umas das outras.
Alice resgata suas relações sexuais regadas a um chá alucinógeno, das quais ela se lembra com detalhes distorcidos, como se fossem partes de um sonho; Dorothy descreve os funcionários da fazenda em que morava, que se assemelhavam a um robô sem coração, um leão medroso e um espantalho sem cérebro; e Wendy fala do misterioso Peter que um dia entrou pela janela de seu quarto e mudou a sua vida.
Não é difícil entender onde Alan Moore queria chegar quando começou a produzir "Lost Girls", em 1991 -a obra só foi lançada em 2006. Uma das personagens, mirando-se no espelho, lamenta que os soldados tenham que lutar em vez de ficar em casa fazendo sexo: "A guerra é uma perversão horrorosa, que vira tudo ao contrário". Nem precisou complementar com "amor e sexo são bons; violência e guerra, não".


LOST GIRLS - VOLUME 3
Autores:
Alan Moore e Melinda Gebbie
Editora: Devir
Quanto: R$ 65 (112 págs.)


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