Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica documentário

Diretor ilumina várias facetas do rabugento e criativo José Lewgoy

Filme expõe rico material de arquivo do ator que flanou como um lorde pela televisão e pelo cinema brasileiros

Amigo de Lewgoy, como revela em uma cena, Claudio Kahns não se esquiva das arestas do biografado, o que o afasta das cinebiografias hagiográficas comuns no cinema nacional

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Lá pelo final de "Eu Eu Eu José Lewgoy", o ator Paulo Cesar Pereio conta a história que ajuda a explicar o título do documentário de Claudio Kahns (o mesmo diretor de "Mamonas para Sempre").

"O Lewgoy me ligava e dizia: 'Eu fiz isso, eu fiz aquilo'. Aí, um dia, eu reclamei: 'Porra, Lewgoy, você só fala de você mesmo. É tudo 'eu, eu, eu'", lembra Pereio.

"Na ligação seguinte, ele começou diferente: 'Porque ele fez isso, ele fez aquilo'. Mas ele continuava contando as coisas dele mesmo." Só mudou o pronome pessoal...

O "causo" revela algumas das características que tornam Lewgoy (1920-2003) um personagem tão fascinante: egocêntrico, rabugento, mas criativo e dono de um humor sofisticado.

Essas e outras facetas são iluminadas pelo documentário de Kahns, seja por meio de rico material de arquivo, seja pelos depoimentos de amigos, familiares e colegas.

Emerge a imagem de um ator original e de um ser humano complexo, que flanou pela TV e pelo cinema brasileiros como uma espécie de lorde que não se afeta pela precariedade do ambiente.

Um intérprete formado em arte dramática na Universidade Yale que sonhava com a glória nos palcos internacionais, mas que conheceu o sucesso primeiro como vilão de chanchadas e ator de novelas brasileiras.

Depois, ele se tornaria um ator realmente internacional, com papéis marcantes em filmes como "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, e "Fitzcarraldo" (1982), de Werner Herzog.

Mesmo assim, passaria a vida se sentindo injustiçado.

Amigo de Lewgoy, como revela em uma cena, Kahns não se esquiva das arestas de seu biografado, o que o afasta das cinebiografias hagiográficas muito comuns no cinema brasileiro recente.

A única lacuna é a vida amorosa do ator -deixada de lado talvez por recato ou por outro motivo que o documentarista prefere não trazer à tona no filme.

De resto, dá conta dos muitos "eus" de Lewgoy, o que não é pouco.

-

EU EU EU JOSÉ LEWGOY

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.