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Sombras em 'Nosferatu' mostram fascínio dos homens pelas trevas

Peça dirigida por Fabio Mazzoni usa velas, fumaça e silêncios para criar atmosfera de horror

Ar é figura central na releitura sobre o mito do vampiro; espetáculo fica em cartaz até dia 11 no Sesc Consolação

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No mundo da invisibilidade retratado em "Nosferatu", espetáculo de Fabio Mazzoni em cartaz no Sesc Consolação, o ar é soberano.

Surge iluminado por velas, como protagonista, contracenando com Cléo De Páris e Eric Lenate. Revela-se no embate entre luz e escuridão e na atmosfera de silêncios dilatados, sombras e danças de fumaça que estabelecem um ambiente de sonho e horror.

"Todas as cenas foram criadas a partir do universo que a luz propiciou. Para mim, não se trata simplesmente da manipulação da vela e fumaça. É bem mais do que isso, é a criação de um espaço de magia", diz Mazzoni, diretor conhecido por trabalhos em teatro-dança.

Em sua releitura do mito do vampiro, a sombra é metáfora para a atração do homem contemporâneo às trevas.

Ao mesmo tempo em que repudia Nosferatu, a mulher desamparada interpretada por Cléo sente fascínio por ele. Ela o vê como uma extensão ilusória do homem.

"Sombras são como espelhos, mas espelhos que sangram", diz a atriz, que assina a dramaturgia da peça.

Ela afirma que se inspirou nos próprios textos que criou para seu blog pessoal ao compor o espetáculo.

"Tem algo de obscuro no que escrevo: madrugadas insones, um tempo perdido no tempo. Se não tomarmos ao pé da letra, é a tradução do que é o vampirismo."

CRUCIFIXO E REMÉDIOS

Para Lenate, que interpreta Nosferatu, o personagem é uma espécie de buraco negro."Não consigo vê-lo como um ser, mas como uma tentativa de ser, algo que só se mantém animado porque existe alguém que o olha com fascínio e o quer."

"Ele se alimenta disso. E, ao se alimentar, destrói", afirma o ator, que atualmente faz este trabalho e dirige versão de "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues.

Nosferatu se faz presente durante toda a peça, mesmo quando se ausenta do palco. "Quando Lenate não está visivelmente em cena, sua sombra está", diz Mazzoni.

Para o diretor, Nosferatu tornou-se figura onipresente nos dias de hoje.

"Vivemos um contínuo estado de terror. O que antes era chamado de possessão demoníaca e se manifestava sob a forma de melancolia, talvez se manifeste hoje como ansiedade e depressão em proporções massivas", afirma.

"Em contraponto à água benta e ao crucifixo de antigamente, hoje é com medicamentos que aceitamos, resignados, que nossas almas sejam sugadas pelo caos."


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