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Debate na Folha celebra talento de Otto Lara Resende

Humberto Werneck, Matinas Suzuki Jr. e Ruy Castro recordam histórias do escritor e cronista mineiro

Jornalistas ressaltam versatilidade e estilo moderno do autor, cuja obra começou a ser relançada com 2 títulos

DE SÃO PAULO

Em debate anteontem à noite no auditório da Folha, os jornalistas Humberto Werneck, Matinas Suzuki Jr. e Ruy Castro celebraram um dos mestres do diálogo entre jornalismo e literatura, Otto Lara Resende (1922-1992).

A homenagem ocorre no momento em que o escritor e cronista mineiro começa a ter sua obra revitalizada pela Companhia das Letras. Os primeiros volumes são o inédito "O Rio É Tão Longe" -cartas enviadas por Otto a Fernando Sabino- e uma edição ampliada de "Bom Dia para Nascer", reunião de crônicas escritas na Folha entre 1991 e 1992.

Responsável por textos de apoio e notas nos dois livros, Werneck lembrou da versatilidade de Otto, "um talento tão polivalente que se esfarinhava em outros Ottos".

Falou então dos quatro Ottos que entrevê: o ficcionista ("torturado, voltado para as Minas [Gerais] profundas", que reescrevia compulsivamente para "despiorar" os livros); o articulista ("um pouquinho mais solar"); o cronista ("apanhava um fato do dia e dava viajadas maravilhosas") e o missivista ("o Otto mais solto, endiabrado").

Ruy Castro, que escreve na Folha no mesmo espaço ocupado por Otto (a coluna do Rio da pág. A2), lamentou que o antecessor não tenha deixado um livro de memórias e recordou a amizade do mineiro com Nelson Rodrigues.

Disse que Otto pode ter sido o inspirador da expressão "óbvio ululante", que viraria uma marca rodrigueana.

Segundo Ruy, por anos Otto passava pelo Pão de Açúcar ao ir para o trabalho e jamais percebera a montanha. Quando o fez, parou o carro, interrompendo o trânsito, ficou desnorteado, teve uma crise de asma: "Não é possível, não estava aqui ontem!".

Suzuki, ex-editor-executivo da Folha, disse que, em 17 anos no jornal, nunca viu alguém "começar de forma tão fulgurante como o Otto".

"O Otto começou pronto. É o mesmo estilo da primeira à última crônica. Ele estava maduro para fazer."

Suzuki ressaltou a modernidade do estilo de Otto. "Já era uma linguagem de internet, de um tempo diferente do tempo da crônica, com frases curtas e aforismáticas."

"Raramente vi na imprensa um texto se adequar tão bem a um formato. Era tão perfeito que ele se dava ao luxo de fazer todas as crônicas em cinco parágrafos."

O encontro, que teve a presença de parentes do homenageado, foi aberto com a reprodução de um depoimento em áudio de Otto gravado nos anos 80, um relato autobiográfico em que diz: "Sou jornalista há mais de 40 anos, escritor que foge de sua convocação, e hoje me pergunto quem sou eu".

E conclui assim: "Creio na utopia, afinal, o Brasil não precisa ser permanentemente infeliz. Precisamos de pressa, precisamos urgentemente ter orgulho do Brasil. Amém".

(FABIO VICTOR)

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