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No porão da vanguarda paulista

Documentário revisita história de casa de shows Lira Paulistana, palco para muitos dos nomes que renovaram a MPB nos anos 1980

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Na rua Teodoro Sampaio, em frente à praça Benedito Calixto, em Pinheiros, há hoje, vizinha a um hotel de pouco luxo, uma lanchonete.

"Está totalmente diferente do que era antes", aponta Riba de Castro, diretor do documentário "Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista", em cartaz em São Paulo.

Riba se refere ao imóvel onde, entre 1979 a 1986, funcionou uma casa de shows histórica na cidade, da qual também foi sócio. Pequeno e com pouca estrutura, o teatro Lira Paulistana, durante pouco mais de seis anos de existência, conseguiu articular uma geração inteira de músicos.

Em seu palco, em forma de semiarena, tocaram jovens que transformaram a música popular brasileira em uma outra coisa. Tinha a ver, mas ao mesmo tempo parecia tomar distância da bossa nova e da tropicália.

Influenciados por eruditos de vanguarda, Luiz Tatit, Hélio Ziskind, Ná Ozzetti e Paulo Tatit, entre outros, criaram o Grupo Rumo e fizeram do Lira uma espécie de residência.

Inspirados pela música erudita contemporânea e ao lado de Itamar Assumpção, Suzana Salles e Tetê Espíndola, criaram ali a chamada Vanguarda Paulista. Depois, foram sucedidos por roqueiros de grupos como Titãs e Ultraje a Rigor. Arrigo Barnabé era da mesma turma, mas nunca tocou no Lira.

O documentário recolhe depoimentos dessa turma toda, expondo recorte afetivo, buscando contextualização com o momento histórico.

Os punks surgiam na periferia, influenciados por bandas como Sex Pistols. A ditadura militar chegava ao fim, mas as músicas ainda tinham de ser submetidas à censura.

CABEÇA DO BEBÊ

"Éramos a cabeça do bebê", define em entrevista ao filme o diretor Pedro Vieira, ao retratar o período. "A gente percebia que a ditadura estava balançando, então havia um clima de festa permanente", completa o jornalista e escritor Mouzar Benedito, que frequentou a casa.

São as entrevistas que seguram a hora e meia de documentário. Há poucas imagens históricas gravadas dentro do Lira, mas as que estão no trabalho de qualquer forma trazem o primeiro time da casa, com destaque para shows do Grupo Rumo.

Boa parte dessas imagens históricas, diz Riba, foram cedidas pelo cineasta Fernando Meirelles, que foi um dos poucos artistas que registraram a vida dentro do Lira Paulistana. Ele também foi entrevistado para o filme.

O documentário peca por não mostrar o motivo do fim do Lira, em 1986. Com boa parte dos músicos e até mesmo dois dos sócios da casa fechando acordo com gravadoras, a história do local chegou ao fim.


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