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Paris vê a arte contemporânea do Brasil

Baseada em livro de Roland Barthes, exposição recebe 22 artistas que refletem sobre construção cultural do país

Mostra se relaciona com obras e movimentos da cultura brasileira que tratam de raça e nacionalidade

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O "auriverde pendão de minha terra" cantado por Castro Alves no poema "Navio Negreiro" recebe os visitantes da exposição "Mythologies-Mitologias", na Cité Internationale des Arts, em Paris.

Mas a bandeira do artista plástico Beto Shwafaty está manchada de petróleo. Fotos de Getúlio Vargas e de Lula coladas no mastro, ambos exibindo a mão negra de óleo, completam a obra de 2010 intitulada "From Abstract Orders to Material Progress".

A exposição de 22 artistas contemporâneos brasileiros, aberta no dia 6, tem o livro de Roland Barthes "Mitologias" como inspiração para especular em torno de temas da nossa construção cultural.

Para a curadora Kiki Maz

zucchelli, a mostra "leva em conta a posição que a arte brasileira ocupa no cenário internacional e reflete sobre sua autorrepresentação".

Os artistas são jovens e a maioria nasceu nas décadas de 70 e 80. Entre eles, a mais velha é a mineira Tamar Guimarães, de 44 anos, que reside em Copenhague e participa com o vídeo "Tropical Blow Up", de 2009. Outros oito artistas da mostra vivem e trabalham na Europa.

Com a preocupação de apresentar produções menos conhecidas, a mostra tem trabalhos que se relacionam com alguma obra, momento ou movimento específicos de nossa cultura ou tratam de questões relativas a raça, nacionalidade e território.

"São mitologias incorporadas em nossa cultura como tais [como a do 'tropical', do 'concretismo', entre muitas outras] de que os artistas presentes na exposição se utilizam para construir seus trabalhos", diz a curadora.

PROJEÇÃO BRASILEIRA

"Mitologias" parte da constatação de que a arte contemporânea brasileira vem ocupando, na última década, lugar de destaque no circuito.

"Esse fenômeno é perceptível tanto no âmbito institucional, de grandes museus e galerias públicos, quanto nas feiras de arte, galerias comerciais e casas de leilão, que contam cada vez mais com a participação de brasileiros", diz Mazzucchelli,

Entre as reflexões sobre nossas mitologias se destacam "Clarividência" (2008), de Tonico Lemos Auad, batatas-doces suspensas por 'fois' de couro; "Concerto para a Mão Esquerda" (2011)", de Deyson Gilbert e Roberto Winter, e duas jacas da série "Brasília, 2010", de Erika Verzutti.

O pôster "Nova Cartografia Tropical, 2011", de Pablo León de la Barra, alia a imagem do cacho de banana com dezenas de nomes de pessoas ou obras "tropicais" ao verdadeiro manifesto que diz a certa altura: "Ser tropical não é uma questão de localização, é uma questão de atitude".

Nesse cacho de bananas, por exemplo, Werner Herzog ("Fitzcarraldo", de 1982) ocupa uma banana lado a lado com Glauber Rocha, Lygia Pape ("Divisor", de 1968), Claude Lévi-Strauss, Augusto Boal ("Teatro do Oprimido", de 1971), Beatriz Milhazes, Paulo Freire, Tarsila do Amaral e Jean-Baptiste Debret, entre muitos outros.

"Panamericana (Flag 1) Version II, 2011", de Alexandre da Cunha, é a foto de uma praia paradisíaca, sobreposta por formas geométricas em preto e branco, formando um desenho que se assemelha ao de uma bandeira.

"Temos a imagem clichê do trópico paradisíaco [dos mitos edênicos das narrativas dos colonizadores europeus] sobreposta pela rigidez construtiva que caracteriza nossa arte concreta", explica a curadora.

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