Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica/Cinema

Filme francês busca preciosidade em trama aparentemente banal

Em 'Adeus, Primeiro Amor', a cineasta Mia Hansen-Love narra com desenvoltura rara o duro processo de amadurecimento de uma adolescente

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Duas informações são relevantes a respeito de Mia Hansen-Love e seu "Adeus, Primeiro Amor".

A primeira é que a diretora parisiense é (ou foi, tanto faz) casada com Olivier Assayas, de longe o principal nome do cinema francês entre os que estão na casa dos 50 anos (é, entre outras, autor da obra-prima "Carlos"). A segunda é que o filme é distribuído por Les Films du Losange, sociedade fundada por Eric Rohmer.

Não é de estranhar, portanto, a limpidez, a ausência de efeitos e a precisão que busca a jovem diretora (30 anos) ao longo da história de Camille, adolescente que ama perdidamente o jovem Sullivan. Mas este acredita que mais importante é viajar com os amigos e conhecer o mundo.

Camille comerá o pão que o diabo amassou, por certo. O encontro com Lorenz, arquiteto e seu professor na faculdade, mitigará a dor da garota. Aos poucos, eles se aproximam, passam mesmo a viver juntos. Eis que então, do nada, Sullivan ressurge para embaralhar o jogo.

Hansen-Love investe muito nas sutilezas. Num primeiro momento, ela constrói Camille como uma adolescente cheia de carências, que julga ter encontrado o homem a quem pretende dedicar sua vida. Uma garota que acredita, em suma, ter resolvido todos os problemas da existência. Sim, Camille é, para resumir, um pouco chatinha.

Como a vida se nega a resolver seus problemas tão prematuramente, Camille é obrigada a crescer, a desenvolver sua curiosidade pelo mundo, a se tornar uma profissional. É depois disso tudo que Sullivan volta à cena. Então o descompasso entre os dois tem direção oposta: é Camille a madura. Sullivan não tem muito o que oferecer.

O espectador até pode perguntar, esquecido do início do filme: mas o que essa mulher vê (ou viu) nesse rapaz um tanto precário?

É esse jogo de sutilezas que Mia Hansen-Love desenvolve: algo não distante do que de melhor o cinema francês tem criado; situações pelas quais qualquer um pode passar (ou passou), tão triviais às vezes que o autor do filme pode parecer num primeiro momento alguém simplório.

Não é bem isso. Esse tipo de cineasta é o que cerca a vida a partir de um aspecto mais realista. Sua desenvoltura se encontra na capacidade de buscar, no banal, algo de precioso, porque comum a muitas existências.

Descrever uma maneira de amar, de estar na rua ou na cidade, modos de encarar a existência e o sofrimento: são os desafios a que a diretora faz frente com uma desenvoltura animadora, talvez rara.

ADEUS, PRIMEIRO AMOR

DIREÇÃO Mia Hansen-Love
PRODUÇÃO França, 2011
COM Lola Créton, Sebastian Urzendowsky
ONDE Cine Livraria Cultura, Reserva Cultural e Lumière Playarte
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.