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Crítica Infantojuvenil

De Amicis traz lição de cidadania e poesia

Cosac Naify lança "Coração", famoso livro infantil em forma de diário publicado pelo autor italiano em 1886

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

EDMONDO DE AMICIS ADOTA O POSICIONAMENTO DE UM EDUCADOR TRANSMITINDO PATRIOTISMO, AMOR AO PRÓXIMO, CONDUTA VIRTUOSA

Polêmico, "Coração", do italiano Edmondo De Amicis (1846-1908), publicado originalmente em 1886, ganha tradução de Nilson Moulin e sai agora pela editora Cosac Naify. Outra tradução importante do livro foi feita pelo folclorista-antropólogo João Ribeiro, em 1891.

O estilo do romance mantém o diário de Enrico, um garoto de 11 anos, que é o protagonista da história, fluente do princípio ao fim, no modo dos melhores cronistas - gênero em que o Brasil tem grandes nomes, como Rubem Braga (1913-1990) e Nelson Rodrigues (1912-1980).

O que deve dar o que falar é a forma como ele aborda assuntos e temas supostamente incorretos ou contraditórios (como morte, atropelamentos, torturas a crianças e miséria) dos pontos de vista político, moral, religioso. Por outro lado, estimula a bondade e a honestidade.

No diário aparecem, como se estivessem coladas, cartas dos pais de Enrico e contos ouvidos na sala de aula durante um ano escolar, reforçando os ensinamentos relatados na voz do garoto.

O livro foi criticado, entre outros, por Benedetto Croce (1866-1952) e Umberto Eco, e elogiado por escritores como Manuel Bandeira (1886-1968) e Raul Pompéia (1863-1895).

Romance de formação, "Coração" ensina cidadania a crianças e adolescentes convivendo no ambiente escolar, com direitos humanos e princípios de solidariedade no século 19.

TOM LÍRICO

De escrita realista com traços naturalistas e líricos, o escritor e militar De Amicis adota o posicionamento de um educador transmitindo patriotismo, amor ao próximo, conduta virtuosa.

São relatos despretensiosos, com soluções poéticas. Representam, como se fossem uma etnografia (registro científico de determinado cotidiano de uma pessoa ou grupo), dificuldades econômicas das crianças pobres e seus sentimentos de tristeza e humilhação, doenças de pais e professores, assédios e confrontos entre jovens mais velhos e os menores, hoje tratados como "bullying".

Tudo isso alternado por descrições de brincadeiras na neve, desfiles militares, festas. O livro traz ainda notas explicativas sobre o contexto histórico.

Do ponto de vista do romance de formação, a obra é útil porque permite aos pais relacionar passado e presente, a experiência ao lado dos filhos, a quem precisam dar respostas que envolvem a escolha de valores. A atual literatura de entretenimento para o público infantojuvenil, em geral, privilegia narrativas de ação, deixando pouco tempo para o leitor-cidadão refletir sobre o futuro ético de seu país ou do planeta.

51 CRIANÇAS

No diário, o protagonista descreve a cobiça, os castigos, as broncas dos pais em cartas trágicas, enviadas por eles ao menino. O narrador detalha a personalidade de seus amigos e a forma como os pais lhe ensinam a conviver com os colegas e a conquistar sociabilidade.

O leitor vê correr diante dos olhos cenas da vida de uma turma de 51 crianças e adolescentes sob o ponto de vista de Enrico.

Com a agilidade do cinema, meninos de todos os temperamentos, pobres e ricos misturados, bons e considerados maus, portadores de deficiência ou não, são transportados para a perspectiva subjetiva do protagonista.

Os temas populares mostram as dificuldades de um filho de pedreiro, de um carvoeiro ou a visita caridosa de uma mãe e seu filho para levar roupas brancas a uma pobre senhora.

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA é jornalista e autora de "As Melhores Histórias de Todos os Tempos" (Publifoha/Livraria da Folha).

CORAÇÃO

AUTOR Edmondo De Amicis
EDITORA Cosac Naify
TRADUÇÃO Nilson Moulin
ILUSTRAÇÃO Serrote
QUANTO R$ 39,90 (352 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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