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Crítica - Poesia

Feita de colagens, obra reunida de Waly Salomão é explosiva

Livros do poeta e agitador cultural são relançados no volume 'Poesia Total'

HEITOR FERRAZ MELLO ESPECIAL PARA A FOLHA

Alguém disse que Waly Salomão era excessivo (teria sido Antonio Cicero, em "Pan Cinema Permanente", belíssimo documentário com o poeta, feito pelo cineasta Carlos Nader?). Era essa a impressão que se tinha, ao encontrá-lo numa rua do Rio, gesticulando incessantemente.

Defrontar-se agora com todos os seus poemas reunidos no volume "Poesia Total" significa caminhar por uma poesia entre a explosão e a contenção verbal, o ritmo largo e espontâneo, com o tempero da ironia, para parafrasear um de seus poemas.

Ou, ainda, é deparar-se com uma incessante busca de autodefinição, mas que abarcava, com gestos enormes e um abraço forte, a própria especulação sobre a poesia e o mundo que o cercava.

"Pensei ter pisado solo firme/ quando descobri/ no texto, What is Zen, de D. T. Suzuki/ que a palavra inglesa elusive/ poderia solidamente me definir de uma vez por todas./ Qual o quê./ Vou onde poesia e fogo se amalgamam. Sou volátil, diáfano, evasivo", escrevia ele em "Novíssimo Proteu", poema de "Lábia", livro de 1998.

A obra que sai agora reúne sete títulos e traz também uma pequena fortuna crítica e algumas letras de canções.

Nascido em Jequié, na Bahia, em 1943, filho de "um sírio muçulmano com uma sertaneja baiana", como dizia, Waly foi uma das figuras marcantes da vida cultural brasileira dos anos 1970 aos 90 --morreu em 2003, aos 60 anos.

Foi uma das referências do movimento tropicalista, ao lado do artista plástico e amigo Hélio Oiticica, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto e Tom Zé. Além da poesia, foi letrista, agitador cultural e produtor de shows.

Seu primeiro livro, "Me Segura qu'eu Vou Dar um Troço" (1972), pode ser considerado um marco da poesia brasileira dos anos 1970.

Com uma prosa explosiva, entre o popular e o erudito, feita de colagens, pastiches e takes, sua câmera poética fazia um giro pelo clima fervilhante da época e voltava-se para o comentário estético e político, numa "voltagem extraordinária", como escreveu Chico Alvim, leitor de primeira hora deste livro que tinha a força de um manifesto.

De sua trajetória, outro momento importante encontra-se em "Algaravias: Câmara de Ecos", de 1996. Pode ser visto com um ponto de reflexão dentro de sua poética, quando sua linguagem se torna mais tranquila, mas numa espécie de enxurrada contida pelo pensamento.

No livro, muitas são as vozes que se cruzam: vozes da memória, da vida afetiva e cultural brasileira e principalmente da subjetividade questionada e questionadora. Como ele dizia no poema "Câmara de Ecos": "Agora, entre meu ser e o ser alheio/ a linha da fronteira se rompeu".


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