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"Nunca fizemos nada por dinheiro", diz REM após fim Integrantes da banda americana, que se separaram após 30 anos, falam sobre a convivência e o sucesso Gravadora Warner lançou a coletânea "R.E.M., Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage 1982-2011" PETER PAPHIDESDO “GUARDIAN” Do lado de fora do elegante Connaught Hotel, em Londres, Michael Stipe examina cuidadosamente a caixinha de balas de hortelã colocada ao lado de cada lugar à mesa em uma sala de conferências. A razão principal de sua visita, ele observa, é um passeio. Mas é claro que poucas vezes em sua história o REM esteve tão em alta -em função da dissolução da banda. Os olhos azuis penetrantes de Stipe se amortecem quando lhe perguntam quem foi o primeiro da banda a falar de uma separação. "Isso não é importante, eu acho." No âmbito maior, ele tem razão, é claro. Mesmo assim, não entendo porque isso deva ser uma questão complicada. "Não é da conta de ninguém", responde Stipe, seco. Então passamos para outro assunto. Trinta anos é muito tempo para fazer discos, em se tratando de uma banda que, segundo o guitarrista Peter Buck, imaginava que poderia fazer sucesso. Na realidade, os álbuns "Out of Time" e "Automatic for the People" os converteram em astros do rock, e, em 1995, eles já estavam se apresentando em estádios para promover "Monster". O sucesso mexeu com os membros do REM de maneiras distintas. "Ajudou a afastar Bill [Berry, baterista] de tudo isso", diz Buck de sua casa em Seattle. Stipe recorda que a energia motivacional e maníaca de Buck diferenciou o REM. "Foi Pete quem usou seus conhecimentos enciclopédicos da história do rock para prevenir todas as maneiras estúpidas em que os grupos se separam. Havia regras muito simples: a gente compartilha tudo o que publica, não briga por coisas mesquinhas, e o grupo é democrático. Todo mundo tem direito de veto, não apenas o vocalista." Se Buck tivesse imaginado que o REM ainda poderia existir no século 21, ele poderia ter criado uma regra sobre métodos de trabalho. "Nós três temos... não metas diferentes, mas métodos diferentes de abordar o que queremos fazer. E meu jeito é radicalmente diferente do dos outros. À medida que venho ficando mais velho, descobri que gosto de trabalhar rápida e espontaneamente. Não gosto de refazer a mesma coisa inúmeras vezes." Será que o REM continuou por tempo demais? Uma coisa é certa: ao lançar uma sequência de álbuns quase perfeitos ("Murmur", "Reckoning", "Fables of the Reconstruction"), a banda criou um padrão que nem sempre foi possível manter. Como é o caso de todas as grandes bandas, em seus primórdios o REM parecia um grupo coeso, embora desligado das modas dominantes de sua época. Nos primeiros anos, o cronicamente tímido Stipe e Buck, o falador arquiteto do grupo, dividiriam um quarto nas turnês. Em 2011, Buck continua fundamentalmente igual. E Stipe? É difícil acreditar que hoje, quase 30 anos depois, o mesmo vocalista, agora fotógrafo entusiasmado, estaria postando fotos dele nu em seu Tumblr. Seria difícil imaginar um adeus mais comedido do que esse. Nada de turnê final. Mas, claramente, é assim que pelo menos um membro do REM quer que seja. "Poderíamos estar por aí ganhando um bilhão de dólares. Mas estaríamos fazendo pelo dinheiro, e nós nunca fizemos nada por dinheiro. Eu odiava ricos quando era moleque, e ainda odeio. Como agora eu sou rico, é um pouco contraditório, mas eu consigo conviver com isso", diz Buck. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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