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Crítica Ficção Científica

Livro explora novos rumos na ficção científica

'A Guerra das Salamandras', de Karel Capek, cria mosaico insólito ao abordar espécie inteligente de anfíbio

Braulio Tavares
especial para a folha

Existe um consenso informal de que a matriz da ficção científica é o eixo Estados Unidos/Grã-Bretanha.

Foi na literatura de língua inglesa (descontando-se a presença pioneira de Julio Verne) que o gênero se estruturou como romance científico e se popularizou a partir de 1926 como "pulp fiction".

É algo parecido com o que acontece com o rock. Ficção científica de alta qualidade é produzida no mundo inteiro, mas quem a produz assimilou primeiro o que foi feito em língua inglesa.

O mais interessante desse processo é quando um autor de personalidade forte e referências culturais de grande peso recorre a esse banco de dados. Surgem nomes como Jorge Luís Borges na Argentina, Stanislaw Lem na Polônia, Italo Calvino na Itália ("Cosmicômicas" etc.), os irmãos Strugatski na Rússia, Karel Capek na antiga Tchecoslováquia.

Alguém dirá que o que eles escrevem não é ficção científica, e a única resposta possível é que de fato não é a ficção científica das revistas norte-americanas; é uma assimilada às referências literárias de cada país.

Capek entrou para a história do gênero com sua peça "R. U. R", de 1920 (traduzida como "A Fábrica de Robôs", Hedra, 2010), que popularizou a palavra "robô", e com seus romances "A Fábrica do Absoluto" (1922) e "A Guerra das Salamandras" (1936).

PONTOS DE VISTA

Esse último foi escrito durante a ascensão do nazismo e do comunismo, o que conduziu a reiteradas leituras alegóricas desta história do surgimento de uma espécie de salamandra inteligente, que se multiplica com enorme rapidez e ameaça encurralar a humanidade.

Capek utiliza uma narrativa com múltiplos pontos de vista, criando um mosaico de fatos insólitos que deixam perplexos os personagens, mas permitem ao leitor ir montando o quebra-cabeças.

É uma técnica que H. G. Wells (1866-1946) popularizou no início do gênero, e que o escritor usa aqui com um divertido olho crítico.

Capek é considerado um hábil manipulador do idioma tcheco, e o livro mostra transcrições de notícias de jornal e depoimentos, além de paródias de documentos científicos ("A Vida Sexual das Salamandras") e de enquetes popularescas ("As Salamandras Têm Alma?").

INTERPLANETÁRIO

A ficção científica talvez tenha desenvolvido, ao longo de seu século ou século e meio de existência, uma fascinação excessiva pelo espaço interplanetário.

Os oceanos ainda são, em nosso planeta, um espaço selvagem do qual a literatura pouco explorou (como faz Capek neste livro) as possibilidades de assombro, ameaça e surpresa.

A GUERRA DAS SALAMANDRAS

AUTOR Karel Capek

EDITORA Record

TRADUÇÃO Luís Carlos Cabral

QUANTO R$ 39,90 (336 págs.)

AVALIAÇÃO bom

BRAULIO TAVARES é escritor e compositor. Escreve no blog Mundo Fantasmo (mundofantasmo.blogspot.com)

O colunista José Simão está de férias

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